Se eu tivesse uma máquina do tempo, o que eu mais queria era poder observar como era a vida dos nossos anteados aqui mesmo no nosso espaço, enquanto a história se desenrolava lá fora. Infelizmente, conversei pouco com meus avós sobre a Segunda Guerra Mundial. Já se aram oito décadas, mas foi tão impactante que talvez hoje estejamos vivendo apenas um longo pós-guerra, ou até mesmo uma guerra que sequer terminou.
Se pouco sei sobre o cotidiano dos meus avós naquele tempo, sabe-se bem como estavam Brasil, Argentina e Uruguai. Por questões geopolíticas, o maior país da América Latina e seus vizinhos do extremo sul, sem dúvida, têm um papel bem interessante quando o mundo escala para conflitos internacionais de dimensões assustadoras.
Entre 1935 e 1945, Brasil e Argentina viveram momentos marcantes. No Brasil, o governo de Getúlio Vargas (Estado Novo, a partir de 1937) consolidou um regime autoritário, com forte controle estatal, e preocupante simpatia com o nazismo. O país acelerou sua industrialização, impulsionado pela substituição de importações e pelo investimento em infraestrutura. Inicialmente, Vargas manteve uma suposta neutralidade, mas, após ataques a navios brasileiros por submarinos alemães, declarou tardiamente guerra ao Eixo em 1942, unindo-se aos Aliados e enviando a Força Expedicionária Brasileira à Itália. Antes disso, o ditador determinou censura e prisão a quem falasse dialeto italiano (isso minha avó me contou).
Na Argentina, o período foi marcado por instabilidade política após o golpe de 1943. O país permaneceu oficialmente neutro durante grande parte da guerra, com setores das Forças Armadas simpáticos ao Eixo. Somente em 1945, já no fim do conflito, a Argentina declarou guerra à Alemanha e ao Japão, buscando aproximação com os Estados Unidos e evitando isolamento diplomático. Já o Uruguai manteve certa estabilidade política em comparação com seus vizinhos. Mas em 1939, logo no início da guerra, ficou internacionalmente conhecido pelo episódio do couraçado alemão iral Graf Spee, que se refugiou no porto de Montevidéu após combate naval com forças britânicas. A diplomacia uruguaia, pressionada pelos britânicos, impôs prazo para a saída do navio, que acabou sendo afundado pelo próprio comandante alemão.
A população nos três países foi impactada por racionamentos, inflação e repressão política. No entanto, o esforço de guerra e as limitações ao comércio exterior também estimularam a indústria nacional. O período preparou o terreno para transformações políticas e econômicas significativas no pós-guerra. Este texto fala do ado, mas bem que pode revelar algo sobre o nosso presente.
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