Sinto-me presa por mais vezes que gostaria de me sentir. Sinto-me excessivamente livre por mais vezes que gostaria de estar. Sinto tanto, mas tudo é tão paradoxal. Sinto, inclusive, demais, de acordo com minha terapeuta. Respondo a ela com silêncio, mas, cá dentro, respondo grosseira: eu sou escritora, poetiza, o que mais eu poderia fazer da vida, além de sentir?
Eu, de fato, sinto muito, por mim e por tudo. Sinto pelas vezes que me fiz gaiola e d’outras que me fiz arinho enjaulado. Sinto por quando me fiz desatenta, não conseguindo contemplar o céu azul e o vento que soprava, me açoitando a cara. Sinto, com ardor, as dores que acumulei. E, sobretudo, sinto as possibilidades de vida mais branda que deixei escapar.
Os possíveis amores que não foram vividos por estar sempre no fronte, pronta para batalhas infinitas, incauta às possibilidades de risos, gozos e afetos. Sempre armada frente ao novo, pistola carregada de medos de me machucar novamente. De fuzil, onde uma faca de pão bastaria.
Mesmo estando no foco de me conhecer, me entender, me dar colo e ar um pano às minhas atitudes incautas adas, vez ou outra me vejo relapsa e perdendo oportunidades de ser feliz - momentaneamente, que seja. Um pouco de alegria é melhor que nenhuma, concorda?
Entre uma fala sarcástica e uma interpretação errônea, sigo. Sigo afastando as pessoas, sigo não me permitindo viver até aquilo que eu gostaria. Em meio à construções de racionalidade totalmente equivocadas, conclusões e antecipações de futuro, sempre apocalípticas, vou me safando de pisar em umas merdas, ao o que perco excelentes chances de felicidade, dentro de um senso de autoproteção inalcançável.
Vou resiliente, desgarrada, pois tenho mínima consciência do que sou, do que consigo lidar e do que, por ora, só posso fugir. Entendo os meus processos e tenho buscado respeitá-los, apesar de sacar que a tal da expressão ‘permita-se’ é mais profunda do que letras digitadas num card do Instagram.
Armada e ansiosa, vou em frente. Estabelecendo metas necessárias para meu próprio desenvolvimento, varrendo para sob o tapete sentimentos e emoções que vão ficar para o enfrentamento no porvir.
De fato, é urgente que eu comece a me treinar para a vida que chega, em sua plenitude. Não é com pressa que ultraarei a barreira do desarmar-me, será abrindo mão de uma arma por vez, será, também, unindo isso à compreensão de que não estou numa guerra. Na vida temos batalhas, mas, definitivamente, viver não é uma guerra.
Em suma, com calma chegarei lá. Absorvendo meus processos, cuidando afetuosamente do meu despreparo, tendo a ciência de que muito já foi erguido e botado em ruínas aqui dentro.
Mas, voltando ao sentir, eu sinto nos poros que é dado o momento de elevar a cabeça, cheia de coragem e dizer: Vai, Sandra Cecília, adiante e sempre. Tá com medo? Vai com medo mesmo, pode confiar. Caiu? Definitivamente, se tem uma coisa que você sabe é se pôr de pé de novo e sempre.
E eu vou. Desarmada.