Têm dias que a gente acorda e já quer voltar pra cama. E têm dias que nem dormiu direito pra acordar. É o leite que ferve, a criança que grita, o boleto que vence, o cabelo que não dá conta. E lá vai a gente: tentando manter o tom da voz calmo, o semblante firme, o sorriso pronto. Como se fosse fácil.
E a pergunta bate: uai, será que sou só eu que tô cansada assim?
Você se olha no espelho, a um batonzinho e um blush, e pensa: vamos lá, né? Mas no fundo, o corpo tá pedindo pausa, a alma tá pedindo colo. E quem é que dá isso pra mulher que todo mundo chama de forte?
Pois é. Esse forte aí pesa.
É uma força meio torta, que ensinaram pra gente como se fosse obrigação. Aguenta firme. Dá conta. Resolve. Não reclama. E a gente vai indo, de peito aberto e coração cansado, meio no automático, com o grito abafado.
Têm dias em que tudo parece grande demais. O mundo parece não caber na gente. Ou será que é a gente que não cabe mais no que chamam de mundo?
É um tal de cuidar de tudo e esquecer da gente. E aí, quando a solidão aperta, a gente finge que não sente. Dá um gole no café, ou no vinho, e toca a vida. Porque tem que ser. Porque é assim mesmo. Porque, fazer o quê, né?
Mas deixa eu te contar uma coisa, do fundo do meu coração: você ainda tá aqui.
E isso já é muita coisa.
Você ainda respira, ainda sente, ainda deseja. Mesmo com o cansaço. Mesmo com a vontade de sumir às vezes. Mesmo com tudo desabando, você continua. Tá vendo? Isso não é fraqueza, não. Isso é a vida insistindo.
Então olha pra você com mais ternura. Escuta a tua voz baixinha aí dentro, pedindo por ti. Quem sabe é hora de começar de novo, de outro jeito. Devagarzinho, com menos cobrança, mais carinho. Pode ser que você só consiga hoje tomar um banho demorado, sentada no chão do banheiro. Ou ouvir uma música que lembre quem você era antes dessa bagunça toda. E tá tudo certo. Um o de cada vez, como quem caminha de pés descalços no chão quente.
É que às vezes, o que a gente precisa não é de força. É de permissão. Permissão pra dizer não. Pra pedir ajuda. Pra parar um pouco sem culpa. Pra recomeçar.
Então te pergunto: o que é que tu tá precisando agora?
Não responde correndo, não. Fecha os olhos. Respira fundo, dá um tempo. E escuta. A resposta tá aí dentro, escondida entre um suspiro e outro. Bem no meio das lágrimas que não choramos.