Tenho feito o exercício de entregar paz ao meu coração, livrá-lo das situações que lhe causam angústia, ansiedade e desconforto. Em certos dias, arranco ele do peito num rompante, e com as mãos ensanguentadas, o massageio lentamente e com cuidado, tentando propiciar a ele momentos de afago e calmaria. Ao o que ele sente o afeto das minhas mãos, também começa a entender que para se ter paz é preciso aceitar que mudanças são necessárias e, por vezes, doem.
Viver dói, para ser bem realista. Mas, precisamos focar na amenização e não no acúmulo dessas dores. Não creio que a vida é pura e tão somente o livro de ponto, os boletos, a ordem e o progresso. Viver, pra mim, também é tomar decisões que tragam dignidade e sorrisos aos dias, sonhos e esperanças às noites.
É preciso ir embora, quando não há mais condições de se estar. É imprescindível que se transborde (amor ou ódio) quando os sentimentos começam a vazar. É vital que respeitemos nossas vontades conscientes para que lá no futuro não fiquemos paranóicos com aquilo que devíamos ou queríamos ter feito.
Tomar decisões é um dos ofícios mais árduos que compõem o ser criatura adulta. Exige de nós coragem e esforços sobre-humanos. Há que se buscar essa força de onde, talvez, ela nem exista. Por vezes, antes, tenhamos que plantá-la, cultivá-la, e só aí colher. Isso leva tempo. Tempo esse que também faz parte desse processo.
Lidar com o tempo das coisas, e não o nosso, também dói. Ter a ciência de que a estrada é longa antes de se começar a caminhar nos deixa um tanto mais aliviados quanto ao tempo que essa jornada levará, e, também, é bom ter o entendimento de que sem o primeiro o o final da estrada nunca estará sob seus pés.
É que a espera é o procedimento cirúrgico do corpo e da alma e traz cura. Temos algumas formas de enfrentar isso. Geralmente eu escolheria a pior, aquela que envolve a luta diária e infrene rumo a um pódio visível apenas ao meu ego. Impor esses desafios sôfregos de vitória a mim mesma era um vício que quase me matou mais vezes do que eu possa mencionar.
Hoje em dia, não mais. Tenho tentado me preservar, afagar meu cansado coração e cuidar do meu corpo não tão jovem. Minhas metas ainda são gigantescas, eu ainda anseio o pódio, mas dar tudo de mim numa única meta, me deixa sem ter o que dar nas demais e eu tenho muitas.
O conceito velho de superentrega e de realização obrigatória de sonhos nos fez adoecer individual e coletivamente, entregou sofrimento em demasia aos nossos corações e isso não pode ser bom, pois não é saudável.
Me fixo, então, ao método baseado em trabalho focado em conquistas possíveis em junção a momentos de sorrisos largos e taças de vinho cheias. Horas de leituras gostosas e estudos pertinentes que deságuam nas amenidades e brevidades da vida. Nada demais, nada de menos, tudo na medida da paz do abraço da minha filha.