Eu não sei o que foi. Se foi o cheiro do café na hora certa, o sol atravessando o portão com preguiça de outono, ou o barulho da mensagem chegando bem no minuto em que eu pensei em desistir. Mas teve algo. Um troço invisível que puxou meu canto de boca pra cima. E ficou. Feito promessa boba, dessas que a gente faz quando tá feliz demais pra duvidar.
Dei com os dentes num riso besta. Um riso que nem me cabia, desses que escapam pela fresta dos dentes, que arrastam o corpo pra dançar sem música e empinam o nariz pro mundo como se a gente fosse artista de circo. Desde que eu te vi, menino, desde aquele primeiro grito que rasgou minha carne e fez tudo virar susto e amor ao mesmo tempo, minha alma tem essa mania de farra.
Você me virou do avesso. Me bagunçou as certezas, mas me organizou o peito. Nunca mais dormi direito, mas também nunca mais fui tão inteira. Tem dia que eu acordo parecendo que a vida silenciou os dramas e tudo o que resta é final feliz. Outros, eu só queria trancar o mundo do lado de fora e ficar contigo olhando formiga eando na açúcar. Mas o que eu sei é que viver contigo é como soltar fogos de artifício e assistir o céu brilhar sorrindo, sorrindo, sorrindo.
É claro que tem hora que pesa. Que cansa. Que eu quero gritar no meio do supermercado, pedir um tempo, um colo, um caladinho que dure mais que trinta segundos. Mas aí você me chama, com esse jeitinho danado de quem sabe que já ganhou, e eu lembro: amar é cachorro correndo atrás de motoqueiro. Arriscado e divertido. É improviso, susto, alegria.
Desde que você chegou, parei de dar murro em ponta de faca. Agora sorrio boba. Até das coisas ruins. Até das minhas mancadas. Porque tudo em mim mudou de lugar. O que doía, hoje dança. O que pesava, agora pulsa. Você me salvou do amargo sem nem saber.
E tem quem estranhe essa felicidade escancarada. Tá feliz demais, mulher, cuidado, dizem. Mas eu nem ligo. Quero ver quem vai me impedir de sorrir de Goiás até Gramado, com você na garupa, cantando e desafinado, pedindo batata frita no café da manhã.
O amor me virou do avesso. Não tem lado triste mais. Tudo que se vê, ou não, é alegre e esperante.
Sua chegada pareceu mágica. Não foi mágica. Foi você.
Foi amor. E faz tempo.