Tenho envelhecido e tenho notado isso. Muito mais pelo meu cansaço e preguiça de existir dentro de certas situações do que pela minha pele que vai perdendo elasticidade e viço. Tão mais pelo excesso de memórias e traumas superados – e em processo – que pelo corpo que despenca no desfiladeiro do tempo.
Sim, é verdade, minha pele não carrega a mesma rigidez de outrora, mas se tocada traz arrepios inéditos, pois acumulou sensações. Meu corpo tem sido gentil comigo: boas pernas para caminhar, um coração que segue disparando em afetos e olhos que ainda se impressionam.
Apesar dos padrões e filtros do Instagram, me sinto eu. Nem jovem, nem velha, me sinto eu-processual, num estado de mutação sem precedentes, dotada de poder e força. Sinto meus poros abrirem e respirarem por um futuro que há de chegar e trazer uma quantidade longa de dias para que eu possa envelhecer em paz comigo e com o mundo.
Em algum momento ado tive medo de me tornar velha, tive medo da improdutividade, da falência da sexualidade e, principalmente, da decadência da beleza jovial. Mas, ora, ora, chegamos aqui, aos 35 anos. Eu sei, não é uma idade avançada, mas é o ponto de corte Instagramável do interesse alheio.
Eis que os 35 anos chegaram e eu nunca me senti mais bela, mais potente e confiante do meu poder como mulher. Observo meu corpo com afeto e discernimento do ado, sei o quanto ele ou de vida, amo-o profundamente por isso.
Minha produção cotidiana e profissional sobe aos céus e volta derramando estrelas. Tenho foco para me entregar às funções de mãe, mulher, dona de casa e trabalhadora como nunca antes. Numa dominação sem culpa do checklist de ser quem sou e do que quero ser, sigo.
Minha sexualidade é íntima e não quer agradar ninguém. Só quer se inundar com suas águas femininas de potências mil e florescer em jardins secretos de ser mulher com peitos de quem nutriu por anos a cria com leite e amor.
Vez ou outra ouço que não aparento ter a idade que tenho. Entendo a observação, aceito com gentileza a intenção, mas não internalizo no peito como elogio. Gosto de ter a idade que tenho, me sinto vitoriosa com minhas mínimas conquistas e isso é tão superior à pele flácida ou escolha estética de vestuário.
N’outros casos, quando cismo de me entregar a noite que badala, escuto que tenho que relaxar e deixar a inconsequência da juventude me possuir. Tento dois minutos e desisto, não arrisco um instante da vida que carrego por efemeridades banais que, inclusive, já vivi.
Tenho consciência do meu espírito jovem e da minha facilidade de me comunicar com os nascidos pós 2000, mas isso não me faz esquecer que nasci em 1987, vivi as loucuras da década de 1990 e virei o século do prometido fim do mundo.
Eu poderia, hoje, almejar ser mais jovem, mas isso corre longe de mim, n’outra instância até. Só quero ser a mãe da minha filha, a filha da minha mãe, a dona do meu destino e carregar minhas rugas com dignidade.