
A proposta de associação da empresa espanhola Five Eleven Capital com o Juventude já não é nenhum mistério. Mas faltava uma manifestação pública da atual direção alviverde a respeito do tema. E ela foi dada na manhã desta quarta-feira (7), no Salão Nobre Walter Dal Zotto em encontro entre dirigentes e a imprensa.
Estiveram presentes o presidente do Ju Fábio Pizzamiglio, do Conselho de istração e Consultivo, os ex-presidentes Walter Dal Zotto Jr, Marcos Cunha Lima e Roberto Tonietto, além do presidente do Conselho Deliberativo, Rogério Bridi.
Inicialmente, os dirigentes mostraram a insatisfação pelo vazamento da proposta espanhola nos últimos meses o que, segundo eles, apressou o processo de análise da oferta junto aos conselheiros. A negociação está em andamento desde o final do ano ado.
Conforme Walter Dal Zotto Jr, o Juventude recebeu, nos últimos dois anos, duas propostas de venda que foram prontamente recusadas.
A oferta da Five Eleven inicialmente era de compra, mas em conversas com os dirigentes do clube, houve avanços para um novo conceito de associação no qual a SAF Juventude terá o investidor comprando 90% da associação e os outros 10% ficariam com o clube, que ainda receberia royalties anuais além de cash-out.
Os Valores
Conforme a Rádio Gaúcha Serra adiantou com exclusividade na terça-feira (6), a proposta da Five Eleven Capital é de R$ 400 milhões para a compra dos 90%. Está descartado um acordo vitalício. A ideia inicial é de um contrato de 10 anos. Importante que se destaque que esse valor seria um aporte ao atual orçamento alviverde que permanece o mesmo e, conforme o ex-presidente Roberto Tonietto, deve aumentar.
— O orçamento do dia a dia vai continuar, mas o clube vai faturar mais com estas receitas. Sendo que o compromisso de investimento no futebol profissional será de 75 a 80% do orçamento — garantiu Tonietto.
A receita do Juventude em 2025 é de R$ 143 milhões, somados os R$ 22 milhões do acordo com a Liga Forte União.
Na proposta apresentada aos conselheiros, na terça-feira (6), os dirigentes ainda externaram como seriam divididos estes valores:
- R$ 90 milhões na estrutura;
- R$ 30 milhões em contratações e salários;
- R$ 90 milhões de orçamento para disputas de competições;
- R$ 60 milhões de luvas;
- R$ 130 milhões em royalties (se o clube permanecer na Série A).
E em caso de rebaixamento?
A maior preocupação dos dirigentes do Juventude é se o time for rebaixado. Todos foram unânimes ao dizer que o clube tem condições de andar com as próprias pernas na Série A. Porém, uma nova queda derrubaria as receitas alviverdes e é aí que a parceria com os espanhóis faria muito sentido.
— O primeiro ano na Série B, vamos bater na madeira pra que não aconteça (brincou), a empresa garante uma cota de R$ 60 milhões, que já seria o dobro do que teríamos hoje. Se ficarmos mais um ano na B, a cota aumentaria de R$ 60 para R$ 66 milhões; se ar mais um ano, somaria mais um milhão de dólares a este valor. É uma garantia que, sem a parceria, não teríamos para sermos competitivos e termos mais chances de retornar à Série A — revelou Tonietto.
O clube ainda teria direito a uma cadeira no Conselho de istração da SAF.
— O principal é pensarmos no clube caindo de divisão. Na A, ele é autossustentável — itiu Walter Dal Zotto Jr.
Ajustes no contrato
As negociações entre os dirigentes alviverdes e os espanhóis seguem no sentido de que se busquem melhorias para ambos (e especialmente o Juventude) no contrato.
Por exemplo, o clube não quer que o patrimônio e a identidade sejam comprometidos. Ou seja, o Estádio Alfredo Jaconi e o Centro de Formação de Atletas Profissionais permanecem de propriedade do Ju, mas serão cedidos à SAF para uso. Além disso, o clube segue com poder de veto à alterações que dizem respeito à tradição.
— Os conceitos não envolvem patrimônio ou a tradição do clube (hino, escudo, uniformes). É uma proposta que ainda não atende todos nossos pedidos. A negociação está apenas em 20% do caminho. Em nenhum momento foi pensado algo que não fosse o engrandecimento do Juventude — reiterou Walter Dal Zotto Jr.
O que ganha a Five Eleven com o acordo?
Essa é uma das grandes indagações da torcida alviverde. Afinal, o que os espanhóis ganham em se associar ao Juventude? A Five Eleven Capital é a empresa que tem como objetivo gerir multiclubes no mundo. O foco é istrar cinco equipes, sendo uma na América do Sul.
O interesse no Juventude surgiu porque a empresa reconhece a capacidade do clube de revelar novos talentos para o futebol. E com isso, a ideia principal é fazer com que estes atletas tenham oportunidade de se transferir ao futebol europeu ou a outros centros bem valorizados.
— Eles apostam muito no trabalho que é feito aqui na base e a ida destes atletas para a Europa — confirmou Tonietto.
O grupo do Exterior é formado por oito pessoas. Todos com experiência no cenário internacional de negócios. O principal nome da empresa é o de Antonio Cordón, o diretor de futebol que, ao longo de sua carreira, ocupou cargos de liderança em renomados clubes de futebol na Europa e na Ásia, incluindo o desenvolvimento das categorias de base do Villarreal e do Monaco FC.
Até fevereiro de 2023, atuou como Diretor Geral de Esportes do Real Betis. Em 1º de junho de 2023, Cordón assumiu a Diretoria de Futebol do Olympiacos FC, na Grécia. Também ou pelo Nottingham Forest da Inglaterra e Rio Ave, de Portugal. Sempre com resultados de campo, os e manutenção na elite com consistência nas equipes por onde ou.
Clima hostil no Conselho Deliberativo
Na noite de terça-feira, a proposta da Five Eleven nem chegou à votação no Conselho Deliberativo. Após um começo onde o clima não era dos melhores, os 155 conselheiros presentes tiveram que se acalmar após conhecer todos os detalhes da oferta espanhola.
— Clima hostil, a maioria não sabia o que estava sendo tratado com profundidade. Serviu pra acalmar os ânimos e dar um tempo para que se tome uma decisão — avaliou o presidente do Conselho Deliberativo, Rogério Bridi.
Foi criada uma comissão com cinco membros que vão fazer pontuações aos conselheiros. Ela será presidida pelo membro do Conselho Deliberativo, Leonardo Tonietto. A ideia é, num período de três semanas, detalhar melhor os termos do contrato, enquanto os dirigentes ainda tentam fazer ajustes no acordo.
— Se o acordo acontecer, vai levar meses para ser assinado, e ainda tem que ar no Conselho Deliberativo — confirmou Tonietto.
Ex-presidente do clube, atualmente no Conselho Consultivo, Marcos Cunha Lima, revelou:
— O Conselho Consultivo deu o aval para que as negociações continuassem, mas com ressalvas. Possivelmente hoje votaria contra a proposta. Mas temos muito que avançar.
Torcedores protestaram
Durante a apresentação da proposta espanhola no Conselho Deliberativo, cerca de 120 torcedores se manifestaram contrários à associação.
Cartazes com os dizeres "SAF Não!" e "Fora Fake Eleven", eram carregados pela torcida em um caminhão de som.
Do lado de dentro do estádio, era possível ouvir os gritos dos torcedores:
— "Não é mole não, tem que honrar a história do Verdão!".