
O Juventude precisou fazer uma cirurgia na comissão técnica neste início de disputa de Brasileirão 2025 para a equipe voltar a ter um bom momento na competição. E o escolhido para ocupar a casamata do Alfredo Jaconi na vaga de Fábio Matias foi o técnico Claudio Tencati, de 52 anos.
Natural de Indianópolis, no interior do Paraná, o treinador fez sua estreia no Ju no empate em 1 a 1 contra o Fluminense, pela nona rodada.
Durante a semana, o profissional foi convidado para falar sobre o momento do Verdão e curiosidades de sua carreira em entrevista ao Show dos Esportes da Gaúcha Serra.
— A gente tinha um plano emergencial, que era gerar e retomar a confiança. Falei pros atletas: "olha, o foco é ganhar o jogo, vamos nos mobilizar, mas se a vitória não ocorrer, que a gente jogue organizado e não perca". E terminamos um jogo que a gente poderia ter vencido no segundo tempo — avaliou Tencati.
Bastidores do acerto
O acerto de Tencati com o Juventude poderia não ter acontecido por obra do acaso. No domingo (11), dois dias antes de ser anunciado pelo clube, o treinador estava confraternizando em família em Cianorte, após uma partida do Atlético-GO, seu ex-time, em Florianópolis, contra o Avaí. Mas um imprevisto quase pôs tudo a perder.
— Fui ar o domingo com minha mãe de 89 anos, minha esposa estava lá, minha sogra. E acabou que minha sogra ou mal e foi pro hospital. E naquela correria, eu fui pro hospital e fiquei sem celular, não sabia onde coloquei. E o Marcelo (Lipatín, empresário) tentando na noite falar comigo e nada. E no outro dia, na segunda de manhã, um monte de mensagem do Lipatín. E aí que eu fui entender que tinha essa mobilização do Juventude pra que pudesse acertar comigo.
Infância pés no chão
Se hoje Claudio Tencati está no roll dos técnicos de elite do futebol brasileiro, a infância do treinador foi bem mais humilde.
— Ah, não há dúvida que eu andava com o estilingue no pescoço, eu sou criado no sítio, então, pé descalço no chão, sem camisa, a gente brincava com o calçãozinho de meio palmo, aquele calçãozinho apertado, e gostava de caçar. Eu tinha um campinho de futebol no nosso terreno vazio, então a gente montava as travezinhas, jogava futebol ali descalço, chegava em casa lá às seis horas, tudo encraquelado, a mãe puxando a orelha que tinha que tomar banho — relembrou Tencati.
Menino disciplinado, que sentava do meio pro final da classe e que "não abria a boca pra nada", segundo ele mesmo, Claudio não se considerava CDF (pessoa muito inteligente), mas fez faculdade de Educação Física, uma vez que ao tentar ser jogador de futebol profissional até os 18 pra 19 anos, teve três lesões seguidas e desistiu.
— O meu irmão gerenciava uma rede de farmácias em São Paulo, minha mãe queria que eu fosse trabalhar com ele lá, aí eu falei: "não, tô fora, isso eu não quero pra mim não, eu quero esporte".
"O Juventude é a melhor fase realmente da minha vida profissional"
E assim, Tencati iniciou no futsal, migrou para o futebol, ando nas categorias de base do Cianorte e dando os primeiros os de uma trajetória marcante e longeva em equipes como Londrina (onde permaneceu por quase sete anos) e Criciúma (por mais quase quatro temporadas).
Fã de Telê Santana, Tencati já tem um projeto em mente para depois que deixar de ser treinador.
— Se eu mantiver nesse nível de Série A até os meus 60 anos de idade, aí a minha ideia é não dar continuidade como treinador, até porque a gente vive muito longe da família, muitas ausências, né, então já tenho ausências dos meus filhos, eu tenho uma menina de 13 anos, um menino de 19, então tem minha esposa também — itiu o técnico, que revelou:
— Eu pretendo a partir daí ou assumir uma coordenação de um clube ou eu volto pra minha cidade e monto um projeto visando só a formação de jogadores, eu quero oportunizar pra outros garotos terem a sua chance.
Tencati considera estar vivendo o maior momento de sua carreira no Jaconi mesmo já tendo conquistado títulos, como os campeonatos paranaense e catarinense, além de ter os nacionais de todas as divisões por outras equipes.
— Essa oportunidade de estar aqui hoje no Juventude, tá derivado de tudo isso que a gente construiu, essa visibilidade construída assim da capacidade de estar de novo numa série A e numa equipe como Juventude, uma equipe grande, então eu considero que é a melhor fase realmente da minha vida profissional — itiu, antes de elogiar a estrutura alviverde:
— O estádio dispensa comentários, charmoso, é tudo aquilo que a gente pensa todas as vezes que a gente veio aqui, aconchegante, um gramado sempre espetacular, o tamanho da estrutura que tem ali no CT eu vejo que ele está no caminho, melhorando a cada dia
Por tudo que já viveu e ainda terá pela frente, Tencati explicou porque vale a pena seguir trabalhando como treinador, quando altos salários contrapõem a grande pressão que os profissionais da casamata convivem.
— É uma profissão assim que tem um desgaste porque você está no centro. Então você tem que ter uma gestão de grupo muito forte, o treinador tem que ter um autocontrole, tem que ter uma capacidade mental de organização, de nível e de tomada de decisão precisa. Realmente é o preço que se paga, por isso que é uma profissão exigente e realmente ela tem um prazo de validade. Mas eu não me vejo na beira do campo todo esse tempo, porque ela é muito exigente e a gente tem que também ter um processo de vida — finalizou.