Das coisas que me vêm à mente quando penso em momentos de solidão, a que prevalece é a comparação. Comparar as sensações que meu corpo já teve e, o que nele não resta mais, é um exercício gigantesco. Das dores físicas do desgaste emocional aos desconfortos emocionais do que nos atingiu fisicamente, tudo é sensação, tudo é comparado, tudo a atravessado no punhal da realidade.
Mas, nem tudo é dor, há também as doçuras que nos foram entregues sem que, ao menos, pudéssemos conceber como possível, muito menos fomos treinados a aceitar. Tento e nem sempre consigo, elevar ao mérito devido à beleza das novas possibilidades, das novas-velhas sensações. Digo novas e velhas, num mesmo patamar, pois emoções que aqui jazem, ressuscitam e adquirem roupagens inéditas se o toque que nos toca à alma forem de outras mãos.
É possível que nossa pele seja tocada com afeto por anos e anos e, ainda assim, nunca sentiram a profundidade de estarem em máxima profusão de estar. Estar, isso mesmo, aquilo que se diz do presente-perfeito-inigualável. Onde estamos e não há outro lugar no mundo onde queiramos estar.
Eu tive o privilégio de me sentir profundamente tocada algumas vezes, mas a cada vez que me permito o toque do outro, minh’alma se incendeia, graceja, ri e dança. É que, entre o toque dado e o recebido, existe a pele e é ela quem governa o futuro dali adiante.
Dias desses, num domingo de ressaca, me permiti ao toque do outro. Eu nem estava para toque no dia, mas existia um vazio permanente se adonando de mim, que estava quase a me deixar oca. Oca e cheia de ecos agonizantes de um ado morto dentro de mim.
Como um assovio de um bicho que voa e eu jamais poderia nomeá-lo, vinha vindo de fora pra dentro um aviso. Ele chegava da rua, soprado em ventos desassossegados, pra tirar meu sossego. O recado era que, para além da janela aberta, havia luz. Eu, descrente, resolvi crer. Quando cri no aviso, entendi que não há só luz do sol, no sol há, além de tudo, calor. Eu só não sabia, mas até ali ardi de frio dia após dia.
Um simples toque não pode aquecer uma espessa pele imensa. Ela é tão grande, é capaz de cobrir um país qualquer que seja atravessado pelo Trópico de Capricórnio. Ou pode? Na constatação, eu não sei. Não tenho conhecimento que alcance essa especificidade meridional, mas, se bem sei, o que está sob o sol, hora ou outra arde.
E, cá estou, em chamas. Num toque dele ou do sol, eu não sei precisar, esqueço a baliza da vida e só almejo mais. Mais um tantinho assim daquela presença potente, quente e acolhedora. Só mais dois minutos daquele abraço-cobertor, é só o que peço.
Não sei o que me sobe, muito menos até onde, por ele, desço. Sei que ele alcançou limites de sensações onde minha pele nunca foi atingida. É que ele me tocou na epiderme do meu espírito, nessa área subcutânea da minh’alma. Me tocou com sorrisos, disponibilidades e desejos. Tudo nele é uma erupção de vontade que queima minha pele e me faz arder. É que ele me embrasa.