O que eu vou ser agora que eu já cresci? Reformule a pergunta, refaça a rota, e uns dois ou dez panos para seu eu do ado e vá em frente. O futuro é um lugar que vai chegar, querendo você ou não. O máximo que você pode fazer para ser alguém que ainda quer ainda ser no amanhã é se movimentar no hoje.
Bom, esse será um texto infestado de clichês. Então, prepare-se: engole esse ranço e leia-o de uma forma que nunca leu nenhum texto antes. Sabemos que somos frutos e não raízes, somos mais próximos às folhas que caem e se renovam nos galhos do que caules firmes que ali permanecem. Eu sei, dói ter ciência da nossa impermanência. Sou filha da terra, a-se três séculos inteiros até que eu dê um mísero o, mas ainda assim descobri que seguir caminhando é o único caminho possível.
Sempre fui uma sonhadora. Acordada, em meio à fantasia, pensava na pessoa que me tornaria. Sonhei infinitas vezes do meu eu do futuro. Como eu seria, o que estaria fazendo? Perguntas e mais perguntas que só me trouxeram ansiedade e frustração, mas que sem elas eu jamais entenderia o que é ser gente grande e sonhar na prática.
Confesso, quase nada saiu como o meu planejamento. Por sarcasmo ou piada do destino eu, sempre tão pragmática, tive que lidar com toda sorte ou azar de acontecimentos, lidar com eles e seguir em frente.
Lembro-me dos amores que chegaram como chuvas de verão e pegaram-me desavisada. Eu não tinha guarda-chuva em mãos, estava desprotegida. Entrei naquilo, não tinha como fugir, me molhei, me encharquei. Amores que vieram para trazer maturidade, currículo de vida e um tanto de assunto para a terapia.
Lidar com outra pessoa em nossas vidas requer organização das nossas metas, fluxos e adaptação nos planejamentos. Eu nunca estive preparada para receber alguém em minha vida sem contrariar meus arranjos de grande sonhadora. Nunca, até hoje.
Eu teria feito muita coisa diferente. Teria sim, mas não fiz. Não tive condições emocionais para me colocar como protagonista na minha existência com a chegada abrupta do novo, mas ninguém vai me ver reclamar pois todo o ado me trouxe ao presente. Me trouxe presentes. Me levará ao futuro.
Futuro, esse lugar que é o hoje, o agora, e somente a pouco eu só tive consciência. Futuro, esse lugar por se construir que tenho levantado tijolo por tijolo, edificado com atenção, seguindo um projeto que pode ser alterado a qualquer tempo, como a melhor das mestres-de-obra.
Projetos mudam de acordo com o desenvolvimento daquilo que se está construindo. Sei disso, tive que aprender. Aprendi na marra, inclusive. Levei um ou trezentos sopapos na cara até entender que meu controle é mínimo.
Entendi que o universo vai seguir seu curso sem minhas intervenções. E tá tudo bem.
Quando eu crescer e eu já cresci, vou ser o que sou, sem mais. Essa melhor versão de mim que está fora de todo e qualquer plano que já fiz, mas que é infinitamente superior a tudo o que eu poderia sonhar.