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  • Das 107 vítimas de feminicídio em 2022 no Rio Grande do Sul, 21, ou seja, quase 20%, já tinham procurado ajuda e pedido medida protetiva contra o agressor. Esse número dobrou em relação ao ano anterior, quando foram 10 vítimas de feminicídio com medida protetiva. São mulheres que conseguiram romper o silêncio, mas, mesmo assim, tiveram suas vidas ceifadas no desfecho que representa o ápice da violência doméstica.

    Nesta reportagem, buscamos compreender o que falhou para que os autores, além de aterrorizarem, perseguirem, agredirem, violentarem de forma psicológica e sexual e prometerem exterminar as vítimas, conseguissem concretizar as ameaças.

    Na tentativa de encontrar essas respostas, elaboramos um questionário dividido em cinco partes. As perguntas foram formuladas a partir de entrevistas com familiares de mulheres assassinadas, vítimas de violência doméstica que já tiveram medida protetiva, sobreviventes de tentativa de feminicídio, entidades que atuam na proteção e na defesa dos direitos das mulheres, além de membros do Judiciário e do Ministério Público.

    Na primeira parte do questionário, buscamos respostas sobre o crime e os envolvidos, como o município onde aconteceu, data, dia da semana, arma empregada, nome e idade da vítima e situação do autor — se foi preso ou cometeu suicídio, por exemplo. Numa segunda etapa, reunimos as informações sobre a medida protetiva, como o tempo entre a decisão judicial e o crime, e se o agressor já havia descumprido a determinação de afastamento.

    Tentamos compreender também quais os fatores de risco envolviam essa relação: se o autor já havia ameaçado a vítima, se tinha verbalizado que iria matá-la e se já havia tentado, se possuía o a arma de fogo, e se a mulher relatava ter medo de morrer. Mapeamos, por fim, a rede de proteção, com perguntas sobre qual tipo de atendimento está disponível nesses municípios e quais serviços foram ados pelas vítimas.

    As respostas para esses questionamentos vieram dos registros policiais, dos processos judiciais, de depoimentos de familiares e de postagens em redes sociais feitas por essas mulheres silenciadas. Nem todas as indagações puderam ser esclarecidas. Mas nos deparamos com alguns pontos centrais: a descrença na palavra da vítima, armas de fogo que não foram recolhidas mesmo depois de as mulheres terem sinalizado a existência delas, a dificuldade na fiscalização das medidas — dependendo de a mulher denunciar o descumprimento — e agressores que não foram presos, mesmo após descumprirem a ordem, além dos gargalos da rede de proteção.

    A aplicação de medidas protetivas cresceu no Estado — foram 136,4 mil no ano ado, o que representa 33,5% a mais do que em 2021. Ou seja, uma média de 373 determinações por dia. Mas, no caso dessas vítimas de feminicídio, as ações não foram suficientes para protegê-las. Mesmo após clamarem por socorro e suplicarem providências, como chegou a verbalizar uma delas, essas mulheres tiveram as vidas encerradas do modo que mais temiam: pelas mãos de seus agressores.

    Por que fizemos esta matéria?

    Esta reportagem foi produzida ao longo do curso Jornalismo investigativo: da hipótese à construção da narrativa, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com apoio da Embaixada e dos Consulados dos EUA no Brasil. A repórter Leticia Mendes teve mentoria da jornalista Angelina Nunes, coordenadora do Programa Tim Lopes.

    Orientações  

    Fonte: Polícia Civil e Poder Judiciário do RS

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