Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, as autoridades estaduais afirmaram que já se preparavam para a possibilidade de contágio desde que os casos começaram a se espalhar mundialmente.
— Se tem um aprendizado sobre como trabalhar com a doença. O Brasil foi o país que mais tempo conseguiu manter a produção comercial livre depois da detecção em aves silvestres. Temos um conjunto de compromissos com os parceiros comerciais, e isso envolve uma sequência de ações e comunicados — disse o superintendente do Ministério da Agricultura no RS, José Cleber Dias de Souza.
No Estado, o mês de maio já era considerado um período de risco em razão da circulação de aves silvestres neste período do ano.
— Não fomos pegos de surpresa. Sabíamos que, provavelmente em maio, poderia ter caso de ocorrência devido ao movimento de aves migratórias nesta época — afirmou Márcio Madalena, secretário adjunto da Agricultura.
O registro do vírus na produção aviária tem efeito imediato nas relações de comércio exterior. Por isso, o caso traz importante impacto financeiro para o Brasil e o Rio Grande do Sul, que é o terceiro maior exportador de carne de frango entre os Estados.
Estão suspensas temporariamente a exportação de produtos avícolas brasileiros para China, União Europeia, Canadá, África do Sul, Chile, Argentina, Uruguai, México e Coreia do Sul, conforme levantamento do Ministério da Agricultura. No caso europeu, a suspensão automática e da forma de autoembargo está prevista no protocolo de exportação de frango acordado entre o Brasil e o bloco.
A China, principal comprador do frango brasileiro, já havia suspendido as compras desde o caso de Newcastle (semelhante à gripe aviária), detectado no município de Anta Gorda, no ano ado. Para o RS, portanto, a autossuspensão nada altera. O problema é que o novo foco agora deve postergar as tratativas de reabertura do mercado.
Presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos diz que ainda é cedo para se projetar o tamanho do impacto econômico. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que cálculos ainda precisam ser feitos para se ter uma dimensão do problema.
Mudanças nos tratados sanitários com vários países foram articuladas após registros de contaminação de aves silvestres no Brasil, em 2023. A intenção era regionalizar eventual suspensão, já que um caso no Rio Grande do Sul, por exemplo, não afetaria os animais de outros Estados.
Agora confirmado o caso em atividade comercial, a expectativa é de que as conversas entre os países avancem no sentido de regionalizar os embargos.
— Os países em que nós conseguimos avançar e trocar o protocolo, como é o caso do Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes, ficam s primeiro ao Estado que teve o foco, no caso do Rio Grande do Sul, e depois se restringe apenas ao município. O restante do Brasil continua com o fluxo comercial normal — explicou o ministro.
Em 2024, as exportações brasileiras de carne de frango atingiram o recorde de 5,2 milhões de toneladas, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O dado representou alta de 3% em relação ao ano anterior.
O governo alerta que não existe risco de transmissão da doença pelo consumo da carne ou de ovos. O governo do Estado afirma que a doença foi detectada em uma granja voltada para a reprodução e que, por isso, não há qualquer restrição ao seu consumo.
O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é considerado "baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas", diz trecho da nota do ministério. Segundo nota do governo do Estado, a infecção pode acontecer pelo contato direto ou indireto com aves infectadas, por meio de aerossóis, secreções respiratórias, fezes, fluidos corporais ou superfícies contaminadas. A doença não é transmitida por alimentos bem cozidos ou preparados corretamente e a transmissão entre pessoas é muito limitada.
O vírus da influenza aviária circula mundialmente em aves silvestres, sobretudo nas aves aquáticas migratórias, o que facilita a sua propagação. As regiões de maior risco de influenza são aquelas em que há predominância de relação de contato entre galinhas comerciais e aves aquáticas domésticas e silvestres, como patos e marrecos, tanto nas áreas rurais quanto em centros urbanos onde há comércio de aves vivas.
Desde a sua primeira identificação na China, em 1996, a gripe aviária de alta patogenicidade (IAAP) apresentou diversas ondas de transmissão intercontinental. A doença provocou o abate de mais de 316 milhões de aves no mundo entre 2005 e 2021, com picos em 2021, 2020 e 2016. Mais de 50 países e territórios foram afetados pelo vírus, entre eles África, América do Norte, Ásia, Austrália, Europa, Oriente Médio.
Não. A vacina contra a gripe sazonal não protege contra a gripe aviária. A vacina da gripe é atualizada todos os anos para proteger contra os principais vírus da gripe que circulam entre humanos, como os tipos A (H1N1 e H3N2) e B. Já a gripe aviária é causada por vírus diferentes, como o H5N1, que normalmente afetam aves e raramente infectam pessoas. Esses vírus não estão incluídos na vacina sazonal, pois são geneticamente diferentes e circulam principalmente entre aves.
Entre os principais sintomas apresentados nas aves estão alta mortalidade, dificuldade respiratória, torcicolo e falta de coordenação, crista e barbela inchadas e roxas, secreção nasal e ocular, espirros, dificuldade de locomoção e diarreia.