A obesidade pode ter várias causas, por isso, é classificada como uma doença multifatorial. A endocrinologista Jaqueline Rizzoli afirma que, normalmente, há uma combinação de genética e ambiente.
— Podemos dizer que 40% das pessoas desenvolvem a doença devido à propensão genética e 60% devido ao que chamamos de ambiente obesogênico. São as características do estilo de vida. Uma pessoa é sedentária por que não gosta de se exercitar ou por que trabalha demais e não tem tempo? Tem local seguro e iluminado para caminhar perto de casa? Qual é a qualidade, e não apenas a quantidade, da alimentação? A rotina tem pouco ou muito estresse? Como está a qualidade do sono? Costumamos dizer que a genética carrega a arma, mas o ambiente dispara o gatilho. O ambiente pode potencializar ou amenizar a genética — exemplifica Jaqueline.
Por isso, a prevenção também está muito ligada ao estilo de vida, como explica a nutróloga Andrea, da ONG Obesidade Brasil. Não significa que a pessoa não vai desenvolver a doença, mas pode reduzir as chances:
— Há muitos trabalhos mostrando que a prática regular de atividade física reduz as chances de uma pessoa ter obesidade porque ela vai ter um gasto calórico maior. Outro ponto é uma alimentação equilibrada. O que é um prato saudável? Metade de verduras e legumes, um quarto de carboidratos, um quarto de proteína. É o mais indicado, se possível. Assim como evitar calorias vazias, como os doces, por exemplo. São muito gostosos, mas não são nutricionalmente ricos. As comidas muito processadas e industrializadas são muito calóricas. Então, o caminho é realmente tentar comer alimentos mais naturais, preparados em casa. E o ideal é que esses cuidados comecem desde a infância, especialmente nas famílias com tendência à obesidade.
Os profissionais ouvidos pela reportagem são taxativos: o preconceito é enorme e nocivo. Diz Andrea Levy, psicóloga e presidente da ONG Obesidade Brasil:
— Está por todos os locais, o tempo todo. A falta de ibilidade é uma das coisas que mais representam o preconceito. Faltam mobiliários adequados, desde as poltronas do cinema e do avião até caixões e macas. Quando surgiram as poltronas para pessoas com obesidade, ouvíamos muito: "Como assim? Em vez de emagrecer, ganha uma cadeira melhor? Ela que se controle!". Mulheres não vão no ginecologista porque não cabem na maca, então, não fazem os exames preventivos. Elas podem ter câncer e não descobrir. Isto é gravíssimo. Faz com que muitas pessoas nem busquem ajuda profissional. O maior dano é que o preconceito pode matar.
A nutróloga Andrea Pereira reforça:
— O preconceito se estende até entre os profissionais de saúde, que muitas vezes negam o tratamento adequado. Dizem que o paciente não precisa de medicamento, que é só uma questão de força de vontade, de fazer dieta, de malhar. A divulgação de informação é muito importante porque as pessoas precisam entender estamos falando de uma doença crônica.