Com uma base parlamentar na qual despontavam ex-inimigos como Collor, Lula teve dificuldade em convencer a opinião pública de que não sabia do mensalão Ver Descrição / Ver Descrição
O petebista interpretou aquele episódio como uma tentativa de parte do governo e do PT de esvaziar o PTB na partilha de cargos e verbas. E partiu para o ataque: em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, trouxe a público, pela primeira vez, o "mensalão", esquema de propina para compra de votos da base aliada no Congresso. Toda a cúpula do PT foi envolvida no escândalo. Lula escapou. Em pronunciamento, no auge da tensão, afirmou:
— Me sinto traído.
Mas o mensalão era coisa pouca, comparado com o que viria depois: a Operação Lava-Jato. Iniciada de forma modesta em 2014, a investigação revelou o pagamento de bilhões de reais em propina, colocou atrás das grades nomes destacados da política e do empresariado e, desta vez, comprometeu Lula, acusado de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e ocultação de patrimônio.
O dia 16 de março de 2016 marcou um ponto de viragem na imagem pública do petista. Pressionado pelas investigações, temeroso de ser preso (havia sofrido uma condução coercitiva dias antes), aceitou o cargo de ministro da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff, o poste que elegera, numa tentativa de alcançar foro privilegiado e fugir da alçada do juiz Sergio Moro. Foi uma grande trapalhada. Sob um bombardeio de críticas, chegou a assumir o posto, apenas para ver a posse suspensa pelo STF no dia seguinte.
Dali em diante, o que se veria seria um Lula cada vez mais acuado. Em julho do ano ado, no caso do triplex do Guarujá, Moro condenou-o a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção iva e lavagem de dinheiro. Em janeiro último, em Porto Alegre, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região julgaram recurso do petista e foram além de Moro: aumentaram a pena de prisão para 12 anos e um mês.
A defesa do ex-presidente recorreu ao STF por meio de um habeas corpus preventivo, cujo julgamento na última quarta-feira resultou em quase 11 horas de um intenso debate jurídico. Por 6 votos a 5, o pedido foi negado, selando o destino do petista.
Lula, correligionários, iradores, intelectuais e até mesmo alguns oponentes denunciaram na condenação judicial do petista uma perseguição política. Verdadeira ou delirante, essa interpretação assenta pelo menos em um dado real: o pernambucano tornou-se alvo do ódio renhido de parcelas poderosas da sociedade e do PIB brasileiros. Ele continuava a ser visto como uma grande ameaça e era o candidato mais bem posicionado para a eleição presidencial deste ano. Era um símbolo a destruir, um ícone a derrubar, um mito a desmistificar.
Depois da condenação em primeira e segunda instâncias, essa meta parecia prestes a ser cumprida. A ida de Lula para trás das grades tornou-se uma questão de tempo. E esse tempo, para o bem e para o mal, chegou.