Com o objetivo de identificar sinais e comportamentos que possam indicar risco de envolvimento de crianças e adolescentes em episódios extremos de violência, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) realizou, nesta sexta-feira (13), em Caxias do Sul, uma capacitação para profissionais da rede de proteção, agentes públicos e professores.
O evento, chamado de Projeto Sinais, ocorreu na Universidade de Caxias do Sul (UCS) e teve como palestrantes o procurador de Justiça Fábio Costa Pereira e a pesquisadora na área de radicalização, extremismo e terrorismo online, Michele Prado.
O debate em torno do assunto se torna ainda mais importante diante do caso que ocorreu em Caxias do Sul em 1º de abril deste ano, quando três adolescentes atacaram uma professora da Escola Municipal João de Zorzi, no bairro Fátima Baixa. A docente, que lecionava a aula de inglês, foi atacada pelas costas com facadas. Apesar dos ferimentos, ela se recupera do ataque em casa e segue afastada das salas da aula.
Conforme Pereira, que coordena o Núcleo de Prevenção à Violência Extrema do MPRS, um dos principais sinais que devem ser observados nas crianças e adolescentes e que podem desencadear casos de violência é o isolamento:
— A adolescência é uma fase de efervescência, onde tudo que um adolescente quer é reconhecer e ser reconhecido por seus pares, integrar grupos. A partir do momento que esse adolescente se isola e começa a não se reconhecer mais no grupo familiar ou na escola, e junto a isso ainda ter um interesse por violência, a gente começa a acender os sinais de alerta para perceber que tem alguma coisa fora do contexto e fora do lugar — exemplifica.
Para o procurador de Justiça, alguns dos principais elementos catalizadores da violência extrema e da radicalização é o excesso no uso de telas e o bullying, situações que devem ser prevenidas e combatidas.
— Uma das coisas que a família pode e deve fazer é limitar o tempo de uso de telas pelos filhos, além de saber o que eles estão consumindo nas mídias sociais e na internet. Muitas famílias não entendem esse fenômeno moderno, os desafios, os perigos e as ameaças da internet. Em relação às escolas, talvez o grande papel seja a prevenção do bullying. Não existem respostas fáceis para problemas difíceis. Mas o bullying é o agente acelerador de todas essas questões internas do adolescente, principalmente no que diz respeito ao isolamento. Se a gente conseguir prevenir (excesso de telas e bullying), já temos um grande ganho no que diz respeito à radicalização — afirma.
A cada capacitação do Projeto Sinais do MPRS, as redes de ensino recebem questionários com uma série de indicadores. As respostas são enviadas ao Núcleo de Prevenção à Violência Extrema, que faz uma análise para saber quais atitudes devem ser tomadas junto às promotorias, escolas e famílias.
— A nossa atividade não é repressiva, ela é preventiva. Nosso objetivo é recuperar esse adolescente para que ele possa conviver novamente de forma natural com o seu contexto social. A gente entende que esse adolescente, ao dar sinais de radicalização, ao dar sinais de mobilização à violência extrema, no fundo o que ele está fazendo é gritando por ajuda — finaliza Pereira.
Mais de 4 mil pessoas capacitadas
O Projeto Sinais já realizou mais de 30 capacitações somente em 2025. Foram cerca de 170 municípios atendidos e mais de 4 mil pessoas capacitadas. A ação foca a violência extrema que pode ser cometida por crianças, adolescentes e jovens.
Desde o início de 2024, o MPRS acompanha diversos casos de jovens que estavam no caminho da radicalização. Neste período, o órgão fez intervenções que deram resultado. Um dos casos foi o de um menino do interior do Estado que tinha planejado um ato violento e estava sendo monitorado. A partir de uma articulação que envolveu toda a rede de apoio e assistência da cidade, a família ou a ser acompanhada e a situação foi resolvida antes de gerar consequências graves.