
No mês em que o fim da Segunda Guerra Mundial — marcado pela rendição do exército alemão — completa 80 anos, o Aeroclube de Garibaldi irá celebrar, em cerimônia, o voo inaugural do Fairchild PT-19 (PP-HQM) após restauro. A aeronave, encomendada pela Força Aérea Brasileira (FAB) em 1942, tem fabricação norte-americana e serviu para o treinamento, no Rio de Janeiro, de pilotos que depois eram enviados ao conflito na Europa.
O evento, que promete reunir profissionais e entusiastas da aviação, além de interessados pela história, ocorre sábado (17), a partir das 10h, e tem entrada aberta ao público — é sugerida a doação de um quilo de alimento.
O protagonista da festa se apresenta como um monomotor de seis cilindros em linha, com 175 cavalos de potência, asas baixas, trens de pouso nas asas e cabine aberta. Ao todo, são nove metros de comprimento e 12 metros de envergadura.
Carrega a sigla PT, de Primary Trainer (Treinador Primário), porque, embarcado nele, o aluno tinha o primeiro contato com uma aeronave, explica o piloto do Aeroclube de Garibaldi Leonardo Zanonato:
— Provavelmente, os pilotos brasileiros que foram para a Itália (para lutar ao lado das forças aliadas) nos P-47 Thunderbolt saíram de um PT-19. Foram treinados por um North American T-6 ou por um Fairchild PT-19. Essa é a relação dele com a guerra. Ele nunca participou de combate, mas era um treinador primário para que o piloto aprendesse a voar e a combater nas outras aeronaves.

O que trouxe a aeronave para a Serra?
Para preparar os pilotos, o modelo Fairchild PT-19 acabou substituído por outros mais modernos, como o próprio North American T-6, afirma Zanonato. Com isso, a FAB destinou aos aeroclubes as máquinas desatualizadas para treinamentos na aviação civil.
Ao menos a partir da década de 1960, os ares da Serra gaúcha recebem operação de aeronaves Fairchild PT-19. O instrutor de voo Pedro Pereira de Andrades detalha que o Aeroclube de Caxias do Sul abrigava, nessa época, quatro aviões desse modelo, com as seguintes matrículas: HQM — restaurado em Garibaldi e que irá voar no sábado —, GEU, HQN e HLC.
Andrades também registra que, quando uma aeronave era integrada à frota, ava por um rito: o batismo, conduzido por uma liderança religiosa. O Aeroclube de Caxias documenta uma dessas celebrações, ocorrida em novembro de 1963, com a condução do padre Eugênio Giordani:
Os laços do Fairchild PT-19 HQM com Garibaldi começaram em 1975. Naquele ano, revela o piloto Zanonato, a aeronave foi permutada com o Aeroclube de Caxias por outras duas, mas de modelo CAP-4, o popular Paulistinha.
— O HQM foi mantido em voo até 2000, quando teve as operações encerradas — complementa o profissional do Aeroclube de Garibaldi.
Duas décadas depois, um recomeço
Em 2022, o piloto do Aeroclube de Garibaldi César Luiz Lorenzon decidiu que era hora revitalizar o Fairchild PT-19 HQM e trazer de volta o brilho do Berço dos Heróis, como também ficou conhecida a aeronave.
Os trabalhos consistiram, conforme Lorenzon, na renovação das asas, entelamento, pintura e revisão do motor, em conformidade com o que é estabelecido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em março deste ano, o processo foi concluído, com a realização de pequenos treinos e testes.
— Era triste ver essa aeronave "pelos cantos". Nessa desmontagem, notamos que o avião estava impecável ainda. É gratificante vê-lo restaurado e voando novamente. No Brasil, acho que temos duas voando. É uma aeronave sempre bem vista— conta Lorenzon, o chefe da restauração, que teve a colaboração de Marcelo de Oliveira Abel, Nilton Abel e equipe.
Em caso de mau tempo e baixas condições para voo, o evento será transferido para 31 de maio.