
A partir desta quarta-feira (7), com o início do conclave, o mundo viverá a expectativa em torno da escolha do novo papa. Enquanto os olhares se voltam para o Vaticano, crescem também as especulações sobre perfis, nacionalidades e possíveis favoritos a ocupar o cargo deixado pelo papa Francisco.
Para o bispo diocesano de Caxias do Sul, dom José Gislon, o conclave acontecerá em um clima de serenidade, mesmo diante da diversidade das nacionalidades dos cardeais eleitores. Ele acredita que os cardeais terão um olhar voltado à realidade do mundo.
Apesar de alguns nomes serem ventilados como favoritos no processo, dom Gislon reforça que todos os cardeais têm chances de serem eleitos. O famoso ditado italiano segundo o qual "quem entra no conclave papa, sai cardeal" deve ser levado em conta, segundo o bispo.
Dom Gislon enfatiza que o novo papa deve ser alguém profundamente conectado com o tempo presente. Apesar das diferentes possibilidades de perfil, ele é enfático ao afirmar que a igreja não poderá retroceder.
— O papa é, acima de tudo, o sucessor do apóstolo Pedro. E a beleza da Igreja é essa: a continuidade na diversidade. A missão é o princípio que norteia, e o Evangelho é que norteia a missão da igreja — destaca.
Como o senhor acha que será o conclave?
Vai ser bastante sereno porque as medidas que o Papa Francisco já havia tomado vão ajudar a fazer com que os cardeais façam um trabalho olhando a realidade do mundo. E isso é fundamental, porque os membros que participam do conclave trazem no rosto a realidade do mundo, não mais centrado em cima da Europa, como foi muitas vezes no ado. Hoje, o Colégio Cardinalício é composto por pessoas que vêm das ilhas do Pacífico, da Ásia Central, da China, da Coreia, das Filipinas, Indonésia, Tailândia, Singapura, Mianmar, países da África e América Latina. Isso também reflete sobre a própria igreja, que tem um olhar muito mais aberto à realidade da presença da comunidade católica em várias situações e contextos do mundo, muitas vezes de minoria.
Então foi um ponto positivo o papa Francisco ter diversificado esse Colégio de Cardeais?
Muito positivo porque, no fundo, a igreja é o povo de Deus. A igreja em si só existe onde há presença de pessoas e fiéis. E essa atitude do papa Francisco ter aberto e nomeado cardeais do mundo todo refletiu também na missão pastoral da igreja, que se intensificou para essas realidades do mundo distantes de Roma e da Europa.
A escolha deverá ser um processo rápido?
Todos os últimos conclaves foram bastante rápidos. Hoje existe um olhar de consenso também sobre a missão da igreja. Então, acredito que, primeiramente, os cardeais façam uma reflexão sobre a realidade da igreja no mundo e, depois, partam para a eleição. Eu penso que não será um conclave longo, até porque nós estamos em um ano jubilar com muitas peregrinações a Roma, e quanto mais rápido tivermos o novo papa, mais facilita a condução desse ano. Eu acredito que teremos o novo papa já no próximo final de semana.
Alguns nomes despontam na mídia como favoritos. O senhor aponta algum?
No ado, vários papas foram da secretaria de estado do Vaticano ou diplomatas, como Paulo VI e João XXIII, por exemplo. Mas isso não quer tudo. Ele pode ser escolhido pela experiência no campo diplomático, mas, na realidade do conclave, obviamente tem uma força maior quem indica os caminhos da Igreja. Eu digo sempre que o sopro do Espírito Santo prevalece, e, acima de tudo, o bem comum da igreja. E por isso a atitude de manter os eleitores reservados, fechados, sem comunicação, para que não haja também influência de fora na escolha do novo papa.
Então todos os cardeais têm chance?
Sim, e eu parto do princípio de que a escolha é sempre ponderada sobre várias situações. E por isso a gente pode ter surpresa nesse conclave, como já tivemos em outros. Por isso cabe a nós, como fiéis da igreja, rezarmos pedindo que o Espírito Santo ilumine a missão daqueles que irão escolher o novo papa.
E poderá ser um progressista, conservador ou moderado?
Eu acho que, independentemente do perfil da pessoa, a igreja não pode retroceder. A igreja deve também estar de portas abertas e ser acolhedora. E essa foi uma das grandes lições que Jesus nos deixou. Então, essa missão a igreja não pode esquecer. E é fundamental que o novo papa mantenha também a igreja unida, para que assim se mantenha a missão dela no mundo.
Poderemos ter um Francisco II?
É sempre muito difícil dizer, pois, apesar de cada papa ser sucessor do anterior, ele é, antes de tudo, o sucessor do apóstolo Pedro, e é sempre importante a gente lembrar isso. Venha o Francisco II ou João Paulo III, ele sempre vai ter a missão de ser o sucessor de Pedro, e o pontificado dele poderá ser de continuidade em relação ao anterior, mas diferente.
Como será o conclave
O conclave ocorre na Capela Sistina. Os cardeais eleitores ficam alojados na Casa Santa Marta — uma espécie de hotel existente no Vaticano, construído nos anos 1990, durante o papado de João Paulo II, com a finalidade de tornar os conclaves mais confortáveis para os participantes.
Curiosamente, ao ser eleito, em 2013, Francisco optou por continuar vivendo no quarto em que estava hospedado no local, em vez de mudar-se para o palácio destinado ao papa.
Durante o período da eleição, os cardeais são impedidos de manter contato com pessoas externas ao processo, salvo em situações de emergência. Eles também não podem ler jornais, ouvir rádio, ver TV ou ar a internet.
Prestadores de serviços, como médicos, cozinheiros e faxineiros, devem fazer um juramento de segredo para atuar no Vaticano enquanto ocorre o processo. É vedada a entrada na capela, durante o conclave, de dispositivos que permitam gravação, seja de áudio ou imagens.
Cardeais brasileiros

Dos oito cardeais brasileiros, sete estão aptos para votar. Apenas o cardeal mineiro dom Raymundo Damasceno Assis, 88 anos, não poderá participar do conclave, em razão da idade.
Brasileiros que vão participar da escolha do sucessor de Francisco:
- Dom Paulo Cezar Costa, 57 anos, arcebispo de Brasília (DF). Natural de Valença (RJ)
- Dom Sergio da Rocha, 65, arcebispo de Salvador (BA). Natural de Dobrada (SP)
- Dom Orani João Tempesta, 74, arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ). Natural de São José do Rio Pardo (SP)
- Dom Leonardo Ulrich Steiner, 74, arcebispo de Manaus. Natural de Forquilhinha (SC)
- Dom Odilo Pedro Scherer, 75, arcebispo de São Paulo (SP). Natural de Cerro Largo, na Região das Missões, no RS
- Dom João Braz de Aviz, 77, arcebispo emérito de Brasília. Natural de Mafra (SC)
- Dom Jaime Spengler, 64, arcebispo de Porto Alegre. Natural de Gaspar (SC).