
Quando as férias de inverno terminarem, a comunidade escolar do Colégio Presidente Vargas, em Caxias do Sul, terá como presente uma parte da história instituição devolvida aos frequentadores do prédio. Na próxima segunda-feira (25), terá início o trabalho de restauro de trechos da pintura original de ao menos duas salas de aula. Trata-se de pinturas artísticas da década de 1930 que, por anos, ficaram escondidas sob grossas camadas de tinta.
A arte nas paredes foi descoberta por acaso há cerca de dois anos, quando um estudante acidentalmente derrubou o reboco do muro de uma das salas. O que se revelou foram arabescos, com padrão semelhante a um bordado. Desenhos assim são comuns atualmente em papéis de parede, mas na época eram pintados diretamente na alvenaria.
O dano ocorreu durante a aula da professora de história e atual diretora da instituição, Viviane Mandelli Canali. Desde então, ela buscava desenvolver um projeto para manter a pintura visível e preservada. A professora tinha um motivo especial para isso: a mãe dela, Maria Tereza Mandelli Canali, foi estudante do Presidente Vargas e perguntava se a escola ainda tinha as formas nas paredes quando a própria Viviane foi aluna da instituição. Até a queda do reboco, porém, ela não sabia exatamente do que se tratava.
Após assumir a direção, neste ano, e buscar auxílio técnico do Museu Municipal, a diretora obteve o contato da restauradora Danielle Schütz, que desenvolveu o projeto para as chamadas "janelas do tempo". A ideia é realizar aberturas na pintura atual, aplicar uma moldura com proteção de acrílico e uma legenda explicando do que se trata. Serão cinco janelas na sala onde ocorreu a descoberta e mais cinco em uma outra sala, onde a pintura foi revelada em junho, durante a limpeza das paredes. O trabalho será realizado pela própria restauradora, com duração prevista de cinco dias.
— Normalmente se abrem retângulos, na vertical ou na horizontal. Pode ser realizado em qualquer lugar, mas nesse caso vou aproveitar algumas lacunas que já começaram a surgir na parede — explica Danielle.
Para viabilizar o projeto, a escola precisou de parceria, que surgiu por meio do Instituto Mix. A empresa vai investir os R$ 585 necessários para a realização do restauro.
Parceria com o Ministério Público para recuperação do prédio
A preservação das pinturas históricas, porém, é apenas uma das iniciativas de um projeto que pretende devolver ao prédio do Presidente Vargas a importância que possui. Tombado pelo Patrimônio Histórico e Arquitetônico de Caxias do Sul desde 1986, o imóvel atualmente apresenta sinais da ação do tempo, com a fachada em mau estado, principalmente as amplas janelas.
A direção, porém, já mantém conversas avançadas com Ministério Público (MP) Estadual para viabilizar a reforma. A ideia é que a instituição receba recursos pago por empresas que firmarem Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) com o MP. A ferramenta é frequentemente utilizada por promotores como forma resolver irregularidades praticadas por empresas, sem a necessidade de levar o caso à Justiça. Nesses casos, o responsável se compromete a pagar uma indenização, que o MP transfere para projetos de interesse público. O cadastro de entidades interessadas em receber o recurso pode ser realizado no site da instituição.
— Tem que ser sempre projetos em prol da coletividade — explica a promotora Janaína De Carli dos Santos.
No caso do Presidente Vargas, a intenção é rear os recursos na medida em que os TACs forem firmados. Os valores dependem de cada negociação. Dessa forma, a reforma da fachada será realizada em etapas.
Conforme Viviane Canalli, a obra está orçada em R$ 253 mil e vai devolver a cor bege, tonalidade original do prédio, além de restauras as janelas. Por recuperar as características da época da construção, a expectativa é que não seja necessária aprovação dos órgãos ligados ao Patrimônio Histórico.
— Está bem encaminhado para recebermos um presente neste ano de ver essa escola de pé de novo — comemora a Viviane.