
Atrações em jogos de futebol, basquete, campanhas de vacinação, os mascotes têm sido divertidos coadjuvantes em eventos cujos atores principais estão tensos seja para pontuar, marcar o gol ou para bater a meta de vacinação.
Em Caxias do Sul, o Periquito, do Esporte Clube Juventude, o Gambas, do Caxias do Sul Basquete e até o Zé Gotinha, do Ministério da Saúde, distraem crianças, posam para fotos e se comunicam por meio do gestual para deixar o ambiente mais leve.
Diferentemente do que algumas crianças possam imaginar — e sentimos em ter que revelar o segredo —, os mascotes são, na verdade. pessoas. Gente que tem ligações com os símbolos que representam e contam os dias para a próxima oportunidade em que vestirão as fantasias.
Ivan dos Santos, 32 anos, Leonardo Ferrolho, 38, e Paula Lucena, 44, já tem seus nomes marcados como certo pelos organizadores de que cumprirão o compromisso de interagir com o público, serem irados, abraçados e até provocados a mostrar quem são.
Gambas: cara de mau para amedrontar os adversários
No último jogo do Caxias Basquete na temporada, em 2 de maio, o público (recorde de quatro mil pessoas no Ginásio do Sesi) não percebeu, mas, ao final do jogo, o homem por trás da fantasia de Gambas estava no meio do público, desmascarado:
— Eu tento manter a identidade secreta, não saber quem é cria uma mística, porque não é uma pessoa é um personagem. As crianças até dizem: “mas isso é uma roupa né, tu é uma pessoa”, quando termina o jogo depois de interagir com tanta gente, tiro a fantasia, ando no meio da galera e ninguém dá bola — diverte-se Leonardo Ferrolho, 38.
Produtor cultural e um dos organizadores do Bloco da Ovelha, Ferrolho interpreta o mascote há quatro anos, tempo suficiente para criar inclusive a personalidade do gambá amarelo com cara de brabo e jeito marrento de andar:
— Criei um jeito de andar para tentar criar uma personalidade para ele. Tem até voz própria, mas não é sempre que fala. Não ser visto te dá liberdade pra testar muita coisa e não sentir vergonha, inclusive me ajudou muito até para tocar no bloco de Carnaval e me sentir mais solto.
Vestir o Gambas já levou Ferrolho ao Rio de Janeiro e São Paulo para interagir com outros perfis de mascotes no Jogo das Estrelas, o evento festivo do NBB que reúne os destaques da temporada para competições de habilidade. No último, realizado em Belo Horizonte, em março, conheceu uma referência no mundo dos mascotes, o Max, do Minas Tênis, que interpreta diferentes personagens em diversas modalidades disputadas pelo clube.
— O cara faz isso há 14 anos, atua no basquete, vôlei em tudo que precisar levar o nome do clube. Vestiu inclusive o Galo Doido, do Atlético Mineiro, que venceu o primeiro Futebol Fantasia (competição entre mascotes do Brasileirão criada pelo programa Esporte Espetacular, da Rede Globo).

Periquito do Juventude: mascote faixa-preta
“Vai e faz a alegria da galera!”, esse é o pedido da direção do Esporte Clube Juventude para Ivan dos Santos que desde 2022, além de vestir o periquito jaconero mantém um projeto social no bairro Diamantino.
Motorista e professor de jiu-jitsu, dos Santos atende 23 crianças e adolescentes entre quatro e 16 anos no “Juventude do Bem”. E foi justamente pela forma como trata o público infanto-juvenil que teve o nome lembrado para a função.
— A criançada é quem se apaixona, já aconteceu de me entregarem até cartinha. Entrei para o jiu-jitsu em 2012 e o esporte moldou minha cabeça, me ensinou disciplina que é o que tento ar para os meus alunos — conta.
Juventudista e integrante da torcida organizada, Santos é um dos primeiros a chegar ao Jaconi em dias de jogo. Fantasiado com a roupa verde e a cabeça de periquito interage com as crianças e acompanha como pode o time que torce desde que se conhece por gente:
— Vejo muito pouco do jogo, só me dizem “vai e faz a alegria da galera” e para isso circulo por todo o estádio.
Aliás, não só no estádio. É que o periquito que ganha vida no corpo de Ivan também é visto em ações do clube. Foi em uma delas, que o faixa-preta quebrou o silêncio do personagem para repatriar uma torcedora descontente com a atitude de alguns na arquibancada.
— Uma senhora me contou que foi ao Jaconi por mais de 20 anos até que um dia ofenderam a família dela e ela deixou de ir. Convidei para que ela voltasse e disse que, enquanto representante do clube, ela seria bem-vinda e bem tratada. No outro jogo nos encontramos e ela veio me dar um abraço. E o melhor de tudo é que ela não conhece meu rosto — recoda.
Zé Gotinha: personificando o cuidado com a saúde das pessoas
Criado em 1986 pelo artista plástico Darlan da Rosa, o Zé Gotinha é um personagem nacional, símbolo e entusiasta das campanhas de vacinação país afora. E interpretar esse personagem, para Paula Lucena, 44, é a realização de um sonho.
Servidora do município há 16 anos, Paula é agente de endemias da Vigilância Ambiental, já representou o mosquito aedes aegypt e entende muito bem o papel das campanhas de conscientização. Vestir a roupa de um ícone brasileiro é, para ela, uma forma de personificar o cuidado com a saúde da população.
— É uma maneira de incentivar as famílias a virem se vacinar, a procurar essa que é a melhor maneira de prevenir as doenças. É um sonho realizado dar vida ao Zé Gotinha, é muito gratificante, porque as crianças largam da mão dos pais e vêm correndo, a gente recebe um afeto muito grande — conta.
Formada em Magistério, Paula diz que gosta de criança desde sempre. Mãe de dois filhos já adultos, mora em São Pelegrino e sempre que representa o papel tem a oportunidade de se aproximar de quem mais precisa de incetivo nas campanhas de vacinação.
— Gosto de estar no meio delas, o abraço e o beijo das crianças é o mais puro e verdadeiro. Conseguir ganhar esse carinho delas é saber que você está puro de coração. E o primordial pra ser um mascote é gostar de crianças, eles enlouquecem, querem abraçar, bater foto, então precisa até de um pouco de paciência — conta, sorrindo.