
Em tempos de Festa da Uva e desfile cênico musical, recordamos do lendário “Carro dos Caçadores”, um dos tantos que fizeram história nos antigos corsos organizados pelo senhor Isaac Menegotto, nas décadas de 1960 e 1970.
O relato a seguir é da professora Suzana Postali Fantinel, filha do dentista Aparício Postali, um dos grandes mentores daquela iniciativa. Conforme o texto, publicado originalmente na página do Facebook Vivendo São Pelegrino, o carro “estreou” na Festa da Uva de 1965.
Confira a narrativa original de Suzana:
"Postali, então tu ficas encarregado de organizar o Carro dos Caçadores. Com esta determinação, o senhor Isaac Menegotto, responsável pela execução dos projetos do Corso Alegórico da Festa da Uva de l965, designava assessores competentes e entusiasmados para o sucesso deste tradicional evento. De imediato, o cidadão de nome Aparício, de profissão cirurgião dentista licenciado, com quase 40 anos de atuação profissional em seu consultório, situado na esquina das ruas Sinimbu e Feijó Júnior, bairro São Pelegrino, embarcava seus mais de 100 quilos num Austin A70, e lá se ia pelas estradas empoeiradas das nossas colônias ao redor de Caxias do Sul.
Percorrendo todas as léguas, convidava seus clientes-amigos, como os Tomazzoni, os Onzi, os Della Giustina, os Mugnaga, os Tizato, os Cassânego, o Olmiro Faccioni, o Nava, o primo Silvino (com seu bandônio), entre tantos outros, inclusive o carioca Onofre David. Espontaneamente, enfrentavam esse desafio de expor-se numa demonstração pública de humor e criatividade.
Aparício Postali também contava com fiéis patrocinadores de empresas, como Companhia Vinícola Riograndense, Cooperativa Aliança, Matadouro Perini, Cervejaria Polka, do município de Feliz, entre outras. Graças a essa generosidade, os companheiros-caçadores traziam os espetos para o churrasco, os barris e os garrafões de vinho e destilados, milhares de copos e, em especial, as espingardas carregadas de festim.
A decoração do carro era feita de algumas árvores, mesas e cadeiras ao estilo colonial, para propiciar os jogos de baralho e da “mora”, ferramentas agrícolas, barracas, pelegos, enquanto a indumentária tanto podia ser aquela usada nas lides da lavoura, como as mesclas gauchescas das bombachas, lenços e chapéus de abas largas.
Com o pipocar dos foguetes e o cantar das antigas melodias italianas, os “caçadores” anunciavam o término do desfile dos carros alegóricos, após apresentações das mais importantes empresas da cidade e região, dos clubes e instituições de serviços, das bandas militares e colegiais e da presença majestosa da rainha da Festa da Uva e suas princesas, acompanhadas, honrosamente, por um piquete de cavalarianos.
Tudo era festa, mas eram eles, os chamados “caçadores”(de preferência com o garfo), que, mesclando-se aos turistas e ao povo que transbordava pelas ruas e calçadas, prosseguiam distribuindo cachos de uva, copos de vinho e nacos de um bom churrasco”.


Um churrasco em 1972
No texto, Suzana também recorda da edição de 50 anos atrás e do encerramento do desfile, em São Pelegrino, onde a família Postali morava:
“Era um gran finale, feito de muito sabor, muito humor em gestos concretos. Os caçadores, com entusiasmo, empunhando suas armas e espetos pontiagudos, dirigiram-se ao Presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, acompanhado da sua ilustre comitiva, para gentilmente oferecer-lhes uma prova do churrasco, sob os olhares estarrecidos dos seguranças e das câmeras da TV, que no ano de 1972 registraram várias dessas imagens pela primeira vez e as transmitiram a cores para todo o Brasil, graças ao então Ministro das Comunicações, Hyginio Corsetti, um dos homens de destaque da descendência italiana da região.
Como acontecia até então, o corso alegórico percorria a Rua Sinimbu e tinha um dos seus momentos mais significativos quando surgia na Rua Feijó Jr., no bairro de São Pelegrino. Então, das sacadas das casas, ouviam-se assobios, palmas, gritos, ruídos de “aços”, tilintar de sinos e matracas para ovacionar aquele grupo de amigos “caçadores”, que, com tanto entusiasmo e humor, conseguiam motivar a todos que os aguardavam ansiosamente. Esta foi uma das performances que prosseguiram pelos anos e por várias outras festas...”

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