
Lembrado até hoje pelos moradores mais antigos do bairro Lourdes, o incêndio que atingiu a sacristia da Igreja do Santo Sepulcro, em 8 de julho de 1983, deixou como “resquício” uma história pra lá de curiosa. Falamos do punhal de madeira da imagem Nossa Senhora das Dores, encontrado intacto em meio às cinzas.
O episódio chamou bastante atenção à época e rendeu uma matéria publicada pelo Pioneiro em 29 de novembro de 1983. Conforme o texto, o punhal – parte integrante da estátua, transando o coração da santa – não costumava ficar junto da imagem.
Entrevistada pela reportagem de 39 anos atrás, dona Julieta Neves, uma das moradoras mais antigas do bairro, explicou que “como alguns fiéis ficam demasiadamente impressionados com a representação, na maior parte do tempo o punhal fica guardado em um armário de madeira, na sacristia”.
Dona Julieta, juntamente com as senhoras Inês Pauletti, Clari Bertoluzzi e Ernesta Spada, cuidava da capela havia 30 anos – foi ela, inclusive, que deu mais detalhes sobre o ocorrido, na matéria de 1983:
“Dona Julieta Neves mora perto da Igreja do Santo Sepulcro (no extinto casarão de madeira da esquina da Av. Júlio com a Treze de Maio). Ela guarda histórias sobre o surgimento do templo. Possui até a programação impressa da inauguração da igreja, no dia 31 de janeiro de 1937. Julieta foi das primeiras pessoas que acorreu ao local quando do incêndio. E foi quem guardou o punhal de madeira. Ela conta algo mais que ocorreu no dia do episódio: “O incêndio foi na sacristia, mas um plástico que estava na cantoria (outro extremo do templo, sobre a porta de entrada da igreja) derreteu. Não sei como pode ter acontecido coisa assim. Me disseram que pode ter sido a propagação do calor”, comenta Julieta. Mas por certo que a propagação do calor teria provocado, então, outros efeitos destrutivos dentro da igreja. É outro episódio, no mínimo, curioso. O punhal está agora guardado ainda na sacristia, dentro de uma caixa de papelão. Mas agora é olhado com mais curiosidade e com ar de interrogação. Como poderia sair incólume do lugar onde tudo o mais foi consumido?”
Para muitos fiéis, a resposta foi dada na própria matéria:
“O episódio do punhal que o fogo não conseguiu consumir pode ser mais um sinal, um ponto de apoio para a justificada fé depositada no poder de intervenção de Nossa Senhora junto a Jesus Cristo”.

“Tudo que era de madeira foi consumido”
Na reprodução abaixo, a matéria do Pioneiro de 1983 destacando a curiosa história do punhal “sobrevivente”:
“No dia do incêndio que danificou o assoalho, tudo o que era de madeira foi consumido. Material constituído de metal foi salvo, não sem algum dano. Assim é que cálice e ostensório tiveram que ser recuperados. Mas o punhal, de madeira, de fácil combustão, está intacto”.


Zambelli e Locatelli
Obra do artista italiano Tarquínio Zambelli, fundador do lendário Atelier Zambelli, a imagem de Nossa Senhora das Dores soma-se ao rico acervo da Igreja do Santo Sepulcro. Entram aí a escultura de Nosso Senhor dos os, os vitrais representando a Via Sacra e o afresco "A Ressurreição de Cristo", pintado por Aldo Locatelli em 1952, atrás do altar.
Já o famoso conjunto da cripta, esculpido em tamanho natural pelo imigrante italiano Benvenuto Conte, traz imagens representando José de Arimatéia, a Virgem Maria, Maria Madalena, Maria Mãe de Thiago, os quatro soldados romanos, o menino que teria recolhido os cravos da crucificação e o Senhor Morto.
Conforme informações disponibilizadas no site da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, durante a confecção da imagem de Cristo, Conte recebeu o auxílio de Pietro Stangherlin, que esculpiu o rosto e as mãos. Com exceção de Jesus, todas as outras imagens possuem as pernas e os braços articulados (foto abaixo).



Nossa Senhora das Dores e Santa Bárbara
O episódio do punhal de Nossa Senhora das Dores no Santo Sepulcro, em 8 de julho de 1983, guarda semelhanças com outra história curiosa, porém, ocorrida 40 anos antes, em 22 de julho de 1943. Foi o dia da trágica explosão na antiga fábrica de munições da Metalúrgica Gazola, na BR-116.
Conforme revelou o senhor Remy Gazzola no documentário Aos Olhos de Santa Bárbara, de André Costantin, a parede onde estava pendurada a estampa de Santa Bárbara foi a única que não desabou com o estrondo. Protetora contra raios, tempestades, perigos de explosões e a morte repentina, a gravura de Santa Bárbara ficou praticamente intacta, com apenas um trincado no vidro.