
Assunto abordado recentemente neste espaço, o recém-lançado livro Automobilismo no Tempo das Carreteras, de Luiz Fernando Andreatta e Paulo Roberto Renner, ganha mais um destaque.
O motivo é a lembrança de um texto escrito por Elton Jaeger e publicado no extinto jornal Folha da Manhã, em 22 de outubro de 1970 – um dia depois da morte do piloto Catharino Andreatta, aos 58 anos, e pouco mais de duas semanas antes da inauguração do Autódromo de Tarumã.
Explica-se: o texto foi enviado por Lucy Andreatta, filha de Catharino, ao colunista Ricardo Chaves, do jornal Zero Hora. Catharino, que participou de diversas Copas Festa da Uva nos anos 1950 e 1960, é irmão do também ás do volante Julio Andreatta (1917-1981), pai de Luiz Fernando, um dos autores do livro. Confira abaixo o texto de 51 anos atrás.

"O velho", uma crônica de 51 anos atrás
“O carro ou roncando. O verde-amarelo se destacando na estrada e emergindo de uma nuvem de poeira. A multidão se comprimia ansiosa nas proximidades da faixa de chegada, vendo a bandeira quadriculada agitar- se saudando o vencedor, nem precisava esforçar-se para divisar o número 2 pintado nas portas do velho Ford.Tinha que ser ele, o ‘Velho’.
Logo o campeão descia da carretera, com o rosto suado se abrindo num sorriso, a voz tão rouca como o ronronar do motor poderoso do carro que pilotara, agradecendo os cumprimentos. Era uma cena comum para o ‘Velho’, que morreu ontem, vítima de uma enfermidade que lhe vinha há tempo roubando as forças, mas jamais roubava o ânimo forte, a fibra, a vontade de viver correndo. Ele tinha a velocidade no sangue e a ânsia de andar sempre na frente, mais rápido que todo mundo.
Agora está morto. Vive, porém, na memória daqueles que conviveram com ele, que correram com ele, que perderam para ele, que o iravam como o maior de todos. E não morreu sozinho. Com Catharino Andreatta desaparece uma geração de volantes, de bravos, sem a sofisticação técnica dos pilotos de hoje, mas donos de uma coragem e de uma força que não se encontra mais.
A carretera 2, aquela de cor verde-amarela, o esperará em vão, cobrindo-se como nós todos que o estimávamos, com a poeira da saudade. Dia 8 de novembro, quando os motores estrugirem, poderosos, cheios de mil venenos, na pista novinha do Autódromo de Tarumã – que, cruel ironia do destino, Catharino não palmilhará –, haverá um lugar vago no pelotão da frente.
Mas se você estiver lá, abra bem os olhos, talvez veja um carro verde-amarelo com um número 2 branco pintado nas portas e, dentro dele, capacete enfiado na cabeça, voz rouca e um sorriso simpático, o palavrão pronto para explodir nos lábios: o ‘Velho’, uma lenda no automobilismo gaúcho e brasileiro. Você verá um piloto, um homem. E se você também for corredor, peça-lhe a bênção e, fique certo, ele vencerá de novo. Como sempre”. (Elton Jaeger, jornal Correio da Manhã, edição de 22 de outubro de 1970).


O livro
Mais informações sobre o livro, que custa R$ 80, podem ser obtidas pelos fones (51) 99912. 9501 e (51) 99987.0401.

Parceria
Parte das informações desta página foi publicada originalmente na coluna Almanaque Gaúcho, do colega Ricardo Chaves, de Zero Hora.