
Um trágico episódio, que marcou a história do município de Antônio Prado mas nem sempre recebe a devida relevância histórica, será recordado nesta sexta, Dia de Finados. É quando a comunidade da Capela São Pedro, na Linha Trajano, fará a inauguração do memorial em homenagem aos agricultores Antônio Perosa, Pedro Pastore e Vitório Meneguzzi. Os três foram mortos no conflito ocorrido em 25 de maio de 1936, no centro da cidade, quando também faleceu o então delegado de polícia, Armindo Cesa.
A inauguração da placa ocorre nesta sexta às 16h, no cemitério do lugarejo, logo após a missa de Dia de Finados. Na sequência, haverá a palestra e lançamento de livro "Antônio Prado: religião, política e etnias no conflito de maio de 1936", do professor Valdemir Guzzo. À noite, ocorre um jantar alusivo, a partir das 20h, no salão da capela.
Conforme informações readas pela organização do evento, o conflito ocorrido há 82 anos traumatizou fortemente a localidade rural, que teve várias de suas famílias enlutadas pelos mortos e feridos durante o confronto.
— As lembranças daquele episódio ainda estão muito presentes na memória dos envolvidos. É importante realizar essa homenagem para resgatar um episódio que marcou a região e que precisa de reconhecimento e reparos — destaca o autor.
Por meio de documentos e depoimentos, o estudo analisa aspectos políticos, religiosos e sociológicos que resultaram no conflito na Praça Garibaldi durante uma manifestação de agricultores, descontentes com a alta de impostos, entre outras circunstâncias que motivaram os protestos.
Fruto de uma pesquisa realizada durante o curso de especialização em História Regional pela Universidade de Caxias do Sul, o livro de Guzzo descortina informações que jogam luzes sobre o acontecimento. O pesquisador apurou as motivações da comunidade e a conjuntura na qual ocorreu a tragédia, ainda nominada por alguns com termos como "guerra" ou "revolução", entre outras construções que povoam o imaginário popular.
— Para se ter uma ideia, o conflito ocorreu em 1936, mas o registro policial veio apenas em 1938. Além disso, jornais que vieram fazer a cobertura na época ouviram basicamente a versão da prefeitura. Também não houve inquérito — pontua.

Reconstrução dos fatos
O ato busca o reconhecimento público de todas as vítimas do episódio, destacando a necessidade da reconstrução do fato histórico com todas as suas nuances — corrigindo um desvio que precisava ser resgatado para cicatrizar as dores e lacunas nas famílias envolvidas. No prédio da prefeitura, por exemplo, ainda há uma placa fixada no ano do ocorrido, onde é citado apenas um dos mortos no conflito.
A jornalista Stela Pastore, sobrinha de um dos colonos atingidos, faz coro à iniciativa:
— As reparações históricas são importantes e necessárias para reduzir danos e injustiças. Meu tio Pedro foi assassinado pelas costas a tiros enquanto socorria um ferido. Minha tia ficou viúva com seis filhos. A família e envolvidos foram perseguidos por meses por forças policiais. O processo para apurar os responsáveis "desapareceu". Como aconteceu na ditadura militar, é fundamental que a memória e a verdade prevaleçam para minimamente haver ideia de justiça.
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Repercussão na época
A jornalista Stela Pastore também disponibilizou trechos do jornal Correio do Povo, um dos veículos que cobriu o conflito, em 1936. Numa das fotos (abaixo), o tio-avô de Stela, Carlo Pastore, é entrevistado por um repórter do Correio. Na sequência, as páginas com as fotos dos corpos dos três agricultores assassinados e dos colonos detidos pela polícia, logo após o atentado.


