
Deu em pizza porque ninguém foi atrás. Deu em pizza porque a maioria das pessoas achava que ia dar em pizza e, por isso mesmo, ninguém se importou. Deu em pizza porque estamos acostumados a acreditar que quase sempre dá em pizza. Deu em pizza porque ninguém levantou da cadeira pra ir cozinhar uma massa que fosse.
Nos anos 1960, uma reunião do time do Palmeiras para gerenciamento de crise durou mais de dez horas. No fim, os participantes — já cansados e com fome — reuniram-se para comer pizza, e tudo ficou por isso mesmo. Ninguém chegou a um acordo, ninguém resolveu nada. A exaustão e o comodismo venceram. E assim a lenda do conformismo se perpetuou.
De lá pra cá, amos a acreditar que certos casos são insolucionáveis e que investir energia em algo que exige muito trabalho é pura perda de tempo. Ir atrás pra quê? Perder tempo pra talvez acabar sendo em vão? Tô fora.
Como para muitas coisas, sou do time do contra. Por mais que eu tenha total consciência do montante de energia que será gasto, ainda prefiro bater o pé e acreditar que, sim, eventualmente, algo vai ser resolvido se alguém se dedicar a resolver. Mais do que isso, sou do time que acredita que, quando tudo parece não ter solução, pelo menos o “incomodar” serve para alguma coisa. Ninguém gosta de barulho, não é?
A verdade é que todo mundo tá tão cheio de problemas a serem resolvidos que, no fim do dia, a gente precisa escolher nossas batalhas. Mas tem sempre alguém — costumeiramente chamado de “o revoltado” — que não aceita o descaso, a injustiça, o previsível, e que corre atrás (quase sempre por uma maioria que não está nem aí). É esse alguém que, mesmo sabendo que pode acabar com fome e sem resposta, se recusa a aceitar a pizza pronta e requentada que sempre nos servem. Pode até parecer teimosia ou romantismo fora de moda, mas é esse tipo de insistência que às vezes impede o desastre completo — ou, ao menos, incomoda o suficiente para adiar o conformismo.
Porque, no fundo, o que mais nos anestesia não é a injustiça em si, mas a ideia de que ela é inevitável. E, quando alguém se recusa a sentar à mesa do costume — mesmo sozinho, mesmo em vão —, talvez esteja nos lembrando que a massa da história ainda pode ser feita do zero: com esforço, barulho e uma dose de esperança indigesta para quem só quer engolir mais uma fatia de indiferença.