
Onde foi parar aquele seu melhor amigo do Ensino Médio, que sabia exatamente tudo que você ou durante aqueles anos difíceis, engraçados e, por vezes, até ináveis? Onde anda aquela garota com quem você jurou casar — e até desenhou a casa onde viveriam, com um cachorro e dois filhos de nomes combinando? E aquela pessoa que, num tempo sombrio, ocupava seus pensamentos e fazia parecer que a vida nunca mais voltaria aos eixos?
A verdade é que pouca gente fica.
A gente cresce colecionando gente como quem preenche um álbum: com pressa, com zelo, com aquela ideia infantil de que, um dia, vai completar. Mas a vida não é um álbum. A vida é mais como um varal em dia de vento, onde algumas roupas voam, outras enroscam, poucas ficam presas até o fim.
Tem gente que some sem motivo. Tem gente que a gente permite sumir — da rotina e da gente. E há também aqueles encontros que só fizeram sentido naquele tempo exato, naquela rua, naquela sala, naquele contexto, naquela necessidade, naquela nossa personalidade (vigente apenas naquele ano), naquele amor.
A impermanência dos outros é uma consequência de existirmos. Se nada é para sempre, as pessoas também acabam sendo transitórias, em uma espécie de jeito torto da existência nos ensinar sobre finitude. Com o tempo a gente entende que existe uma diferença entre as pessoas nos marcarem e nos acompanharem.
Às vezes, as pessoas não vão embora — são levadas. Pela rotina, pela distância, pelo cansaço. A amizade não acaba, o afeto não se desfaz, mas o tempo não ajuda, o calendário não encaixa. E o pior é que a gente sente falta sem nem saber direito do quê.
Curioso mesmo então é pensar nos que ficaram. Nem sempre por afinidade, afinco ou afinidade absurda – às vezes, por conveniência, teimosia ou falta de timing pra ir embora. Gente que continuou porque era mais fácil do que sumir. E que, por algum capricho do tempo, acabou virando importante.
Caio Fernando Abreu escreveu: “tenho saudade de pessoas que fui. E das que deixei de ser por causa de outras.” A frase parece simples, mas carrega um peso suave, desses que a gente só percebe depois que compreende que a vida é um eterno emaranhado de separações e reencontros. No fundo, cada pessoa que ou por nós levou junto uma versão nossa — quem a gente era talvez nunca volte, quem a gente vá ser talvez não exista daqui uns anos. E assim entendemos: não só o outro vai, como nós mesmos também vamos. E talvez o mais difícil não seja lidar com quem foi embora, mas com o tanto de nós que foi junto.