
A estilista que veio do Vale
Ana Cláudia Piasentini Dotto, filha de Ricardo Fernando Dotto e Angelita Piasentini Dotto, é uma revelação na área da Moda desde antes de sua formação, em 2013, ano qem que conquistou o primeiro lugar no 27º Prêmio UCS/Sultêxtil. Nascida no Vale Vêneto, no interior do Estado, ela segue produzindo sonhos para seleta clientela. Casada com Alexandro Zanchin de Campos, nossa entrevistada é referência em produção e estilo.
Que conexão lúdica faz com a infância? Brincar muito nas cascas de arroz da empresa do meu pai, a textura é fofa como neve, mas ao mesmo tempo pinica. Dá uma sensação de “nossa, isso é muito legal” com “tenho que pisar rápido para não pinicar muito”.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? Seria bem divertido ser a estilista italiana Elsa Schiaparelli (1890-1973) e criar com tanta ousadia e surrealismo em 1930.
Qual a agem mais importante da tua biografia e que título teria? O momento que eu mudei do interior para Caxias do Sul, cena muito comum na vida de várias pessoas e que impacta bastante na virada de chave entre adolescente e adulto. O título poderia ser “As aventuras de Ana”.
Qual é a sua história com a moda, como começou e por que decidiu seguir por esse caminho? Desde os 12 anos, dizia que queria ser estilista, descobri isso conversando com uma professora da escola. Ela contou que achou muito estranho na época. Imagina, uma menina de Vale Vêneto sendo estilista? Quem eu iria vestir? Hoje, ela diz que me usa de exemplo em sala de aula. Decidi seguir por esse caminho por que quando fui fazer o meu vestido de 15 anos, pude conhecer de perto como era trabalhar com vestidos, e pareceu algo super viável, foi aí que a minha mãe começou a me ajudar a pesquisar onde teriam faculdades de moda, na época, o MEC havia elegido que as melhores faculdades de Design de Moda no Brasil estavam no Rio de Janeiro, São Paulo e Caxias do Sul, é óbvio que ela me “ajudou” a decidir por Caxias, afinal tinha apenas 17 anos quando vim para cá.
Quais os seus trabalhos ou projetos preferidos? Qual o motivo? Amo trabalhar com noivas, todo o envolvimento que o trabalho traz e dedicação em deixar o conjunto perfeito são o que me move.
Busca estabelecer relações no seu trabalho com outras áreas, como design, arquitetura e arte? Sim, acredito que o espírito do tempo caminha por essas áreas. Adoro acompanhar o que está acontecendo na nossa cidade com relação a arquitetura e arte. Sempre que rola algum editorial, tento procurar algum projeto de arquitetura que tenha a ver com os vestidos para ser o plano de fundo.
Como funciona o seu processo criativo, desde a pesquisa até a concepção dos modelos? Os detalhes da natureza sempre chamam muito a minha atenção, e tenho a sorte de ter uma boa memória visual. Esses detalhes ficam na minha cabeça, vou observando as coisas, imagens, e fazendo conexões. Quando começo a desenhar, esse elementos inspiram formas, texturas e cores. Na coleção que nós estamos divulgando hoje, a minha inspiração foi o filme Sex and The City, as peças tem os nomes das personagens, de acordo com a personalidades, temos a Calça Miranda, a Camisa Charlotte super romântica e o vestido Carrie, por exemplo.
O que é ter estilo? É respeitar a própria identidade, usar aquilo que te faz feliz e tem a ver com o teu momento.
Quem são as suas referências na área? Vou citar as marcas que mais acompanho, Valentino, Dior, McQueen, Chanel, Elie Saab e Zuhair Muhad e os ateliers brasileiros que são o White Hall, Sandro Barros e Junior Santaella.
Como lidar com bloqueios e se manter criativa? Lembrando das viagens que já fiz, olhando as fotos, os detalhes. Me ajuda muito também ver os meus livros de artistas e estilistas preferidos, tenho um que só tem fotos de borboletas, e é muito inspirador ver as cores e formas delas, coisas bonitas inspiram e acalmam a mente.
Qual a lição de trabalho em equipe e colaboração tem tirado do comando de seu atelier homônimo? Neste momento, aprendi a ter mais paciência, respeitar o agora e tomar decisões mais focadas na qualidade de vida das pessoas.
Como enxerga a cena de moda contemporânea no Brasil? Atualmente, o cenário da moda contemporânea está muito otimista para novos criadores, pois está acontecendo um movimento muito interessante de valorização do que é feito aqui, de buscar uma identidade local e isso é incrível para quem está trabalhando.
Qual a importância da sustentabilidade nesse meio? Acredito que sustentabilidade deixou de ser um diferencial para se tornar uma obrigação. Não existe ser uma marca de moda contemporânea sem ser sustentável, é um conceito que deve ser trabalhado em todos os aspectos do produto e do dia a dia. No atelier, nós compramos somente o necessário de tecidos, por exemplo, tendo um desperdício muito pequeno e as sobras são doadas para artesãs que fazem roupinhas para bebês e objetos de decoração.
De que maneira pensa que o cenário atual está afetando o mercado da moda, e como isso vai impactar no futuro? Observo as mudanças com muita atenção. O que vi até agora, é que o propósito da marca é o que tem aproximado dos consumidores, como nós vendemos vestidos para ocasiões especiais, o meu foco está em ser lembrada por essas pessoas quando esses momentos voltarem a acontecer, afinal esse é o nosso propósito de marca.
Quais conselhos daria para quem deseja ingressar nessa profissão? Pesquise muito em quais áreas vai poder atuar com a formação em moda, pois elas são muitas. Escolha aquela que o seu coração bater mais forte. Trabalhar com moda é viciante e por isso, precisa de equilíbrio para saber istrar a vida social e familiar com o trabalho, pois as vezes eles se fundem.
O quão importante foi a experiência da graduação e o que pode compartilhar a respeito desta trajetória? Amei cursar moda, tenho memórias ótimas dos meus anos no Campus 8, da UCS. A faculdade permite experimentar estilos, ideias, e abre a cabeça para as possibilidades, é o momento de absorver tudo o que puder, para usar depois ao longo da trajetória profissional.
Quais são os seus planos para o futuro? Me vejo trabalhando com foco maior em noivas que querem ter um vestido com a minha e pretendo manter a linha de peças mais casuais de camisas, calças, blazers e vestidos ready-to-wear como foi feito na Coleção Carrie.
O que considera que são mitos da profissão? De que o glamour é maior do que o corre-corre. São 5 min de Glamour para 55 min de trabalho todos os dias.
Um hábito que não abre mão? Um chocolatinho 70% depois do almoço.
Uma qualidade: carismática.
Um defeito: perco as chaves de casa, do atelier, do carro. Acho que é a memória de quando morava no interior e não precisava trancar nada.
Uma palavra-chave: amor.
A melhor invenção da humanidade? O avião.
Gostaria de ter sabido antes... que ter um gatinho é muito divertido e não me faz ter mais rinite.
Qual será primeira coisa que fará quando a pandemia ar? Entregar os vestidos das clientes que estão esperando, acredito que nada vai me deixar mais feliz!