Algumas igrejas de denominação pentecostal estão convertendo seus cultos em algo parecido com uma balada: contratam DJs para tocar música techno, servem drinks em um open bar e criam espaços adequados para fazer postagens a serem exibidas em tempo real no Instagram. O objetivo: atrair e fidelizar o público jovem pouco afeito a frequentar templos religiosos. A estratégia está surtindo efeito, com o aumento exponencial de fiéis, variando entre 20 e 30 anos. Afinal, a vida é um show e precisa ser exibida nas redes sociais. Ah, deve-se cuidar do visual e usar filtros para as fotos serem adequadas a essa época em que imagem é tudo. Atualização, eis a palavra a ser entronizada também no mundo da espiritualidade. Se for possível, contrata-se alguém famoso, cujo nome esteja na lista dos dez escritores mais vendidos e saiba animar a festa, perdão, o culto. Os habitués de tais locais dizem sentir a presença de Deus nestes momentos em que a adrenalina explode em seus corpos, pois am um bom tempo dançando e conversando animadamente com amigos. Diversos organizadores desses eventos oferecem cursos de empreendedorismo e dinâmicas para casais. Ressalve-se: obtive os dados apresentados acima através da leitura de uma extensa matéria em revista de circulação nacional. Não matem o mensageiro.
Refleti bastante sobre esse tema e cheguei a uma conclusão pendendo para o conservadorismo, mas fiel ao que me guia como pensador da realidade. Nas situações descritas acima tenta-se, perdoem a crueza, transformar os fiéis em produto ou, na maioria dos casos, em consumidores. A fé, assim como a entendo, a ao largo desses shows e tem a ver com interioridade, longe dessa explosão dopaminérgica. Evito parecer um homem apegado a conceitos aprendidos na longínqua infância, quando ia à missa (que, convenhamos, não costuma ser muito atrativa em seu ritual repetitivo). Porém, falta algo em um universo onde o ato de se voltar para si mesmo, visando um aprofundamento existencial, é ignorado. É difícil para o ser humano lidar com a sua orfandade cósmica. A procura de um sentido para a existência nos faz ansiar por respostas, frente à angústia da constatação de sermos finitos. Provavelmente jamais encontraremos as definitivas, mas o próprio processo envolvido nessa jornada pode ser redentor. Falo como um ser profundamente interessado nessa investigação, embora resista a me submeter a certos rituais promovidos por líderes carismáticos, sejam de qual denominação for. Prefiro a liberdade da busca solitária. Sempre desconfiei de quem cobra pela nossa salvação.
Enfim, eis-nos aqui entregues a uma série de atrações visando capturar fiéis. Para alguns talvez opere como um gatilho para mergulhar em questões transcendentes, depois da festa ter se encerrado. Entretanto, prefiro a contenção, a reserva, possibilitando olhar para o abismo com coragem. Teria dificuldade, em obediência a essas novas práticas, de posar com uma plaqueta estrategicamente criada para funcionar no espaço virtual, como se tornou recorrente.
Encontro Deus no silêncio, na natureza, longe do marketing monetizado.