
Um ano depois da enchente que causou mortes, estragos e destruiu a maior parte das ferrovias do Rio Grande do Sul, a concessionária Rumo quer devolver parte dos trechos e manter apenas o canal que liga Cruz Alta e o Porto de Rio Grande, via Bagé — coincidentemente, o menos prejudicado e mais lucrativo do Estado.
Conforme o secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, a proposta aborda a reformatação da Malha Sul, foi entregue ao Ministério de Transportes e é avaliada pela empresa pública Infra S.A. No material, a Rumo manifestou o interesse em manter a rota no Paraná, até o Porto de Paranaguá, mas devolver trechos no território gaúcho.
Se isso acontecer, a empresa deixa de ser a responsável por linhas até o Fundo e Santa Rosa, na metade norte do Estado. O trecho do Trem dos Vales, de 42 quilômetros, que liga Guaporé, Dois Lajeados, Vespasiano Corrêa e Muçum, também deve ficar fora das negociações a pedido do governo do RS, que busca uma terceira empresa privada para explorar a linha voltada ao turismo.
— A empresa sinaliza que quer devolver trechos, mas isso a por regras. Também temos no grupo de trabalho a discussão sobre quais serão as indenizações, levando em conta esses trechos que a Rumo quer devolver. Estamos na etapa final de avaliação — disse Ribeiro.
Caso o governo concorde, a proposta será levada ao Tribunal de Contas da União (TCU) e a devolução deve acontecer antes do fim da concessão da Rumo, prevista para 2027.
Em Brasília nesta sexta-feira (9), onde apresentou estudo sobre as ferrovias gaúchas ao grupo de trabalho do Ministério de Transportes, o vice-governador Gabriel Souza disse que o governo gaúcho não teve o à proposta até o momento.
— Não queremos renovar (a concessão) com o a Rumo, meramente. Há anos a empresa não atende o Rio Grande do Sul de forma adequada. Vamos buscar respostas — disse à coluna.
Desconexão
Para conectar o RS com o resto do Brasil, a alternativa é um corredor de integração que sai de Uruguaiana, vai a Porto Alegre e segue a Santa Catarina e Paraná, disse Ribeiro. Essa malha, contudo, está ociosa e é um projeto do qual a Rumo já manifestou não ter interesse como modelo de negócio, disse Ribeiro.
Para o norte gaúcho, há discussões sobre uma ferrovia para ligar Santa Rosa, ando por o Fundo, até o Porto Meridional, no litoral gaúcho. As negociações são iniciais e não há prazo para tirar a ideia do papel.
Falta de ferrovias já causa prejuízos
Estudo do governo gaúcho apresentado em abril, mostrou que a Rumo opera 3.823 quilômetros de ferrovias do Rio Grande do Sul. Desses, 1.680km estavam operacionais antes da enchente. Depois da chuva, restaram 921km — em suma, o trecho que liga Cruz Alta ao Porto de Rio Grande.
Tanto a conexão com o resto do país quanto o transporte de líquidos foram totalmente bloqueados — o que causa prejuízos às empresas do norte gaúcho. A fabricante de biocombustíveis Be8, por exemplo, gastou R$ 6,5 milhões a mais por causa do frete rodoviário. Ao todo, foram mais de 2,5 mil viagens de caminhão até Araucária (PR) apenas com a operação da empresa.
A expectativa é que a devolução dos trechos da Rumo tenha desfecho até o encerramento do grupo de trabalho do Ministério de Transportes, em junho. Questionada pela coluna, a Rumo disse:
"Dada a complexidade e abrangência da situação, a empresa segue em diálogo com o Governo Federal (poder concedente) e demais autoridades competentes do setor para avaliação conjunta do cenário".
Para comentários, dúvidas e sugestões de pauta entre em contato através do e-mail [email protected].