Matheus abandonou sua residência e tem ado as noites dentro do carro André Ávila / Agencia RBS
O desempregado Vicente de Paula Oliveira só teve tempo de encher a mochila com roupas, remédios e documentos. Logo que amanheceu, subiu na moto e deixou todo o resto para trás. Matheus Horta Lopes já estava fora de casa quando o alarme tocou. Ele tem ado as noites dentro do carro, estacionado junto ao salão comunitário.
— Não tenho conseguido nem pregar o olho. Hoje, quando deu o alarme, a gente se assustou, mas aqui estamos seguros. Minha casa está lá, abandonada. Não vamos sair daqui de jeito nenhum. Precisamos de respostas — ressalta Lopes, que trabalha em um lava-jato que prestava serviços para a Vale.
Ao longo do dia, a evacuação continuou até por volta das 15h, quando a ameaça foi reduzida com a drenagem de parte da água da represa, e a Defesa Civil liberou o retorno dos moradores aos lares. Em Córrego do Feijão, o centro comunitário, a seis quilômetros da lama, se transformou em ponto de encontro, concentrando doações e auxílio.
— Prefiro ficar aqui. Tenho me do de voltar para casa — desabafou Bruna Toledo, 29 anos.
Para alívio de Bruna e da comadre Wesleyane Paloma, 26 anos, o barulho das hélices voltou a reverberar com força em Brumadinho e, com ele, a esperança de encontrar mais gente com vida.
— Aqui todo mundo se conhece. É um lugar pequeno. Somos uma família. Só o que queremos é estar juntos outra vez – disse Wesleyane.
O ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, afirmou que até quarta-feira (30) sai o resultado da análise das águas do Rio Paraopeba, que corta a região atingida pelo rompimento de barragem da Vale no município de Brumadinho. A avaliação será feita a partir de amostras colhidas em 47 pontos de captação ao longo do curso do rio, que abastece uma mancha urbana de cerca de 3 milhões de pessoas. O abastecimento de água na Grande Belo Horizonte está sendo feito por outros reservatórios.
A cidade de Brumadinho teve seus primeiros enterros de vítimas do rompimento da barragem neste domingo (27). Fabrício Henriques da Silva, que trabalhava para uma empreiteira prestadora de serviços da Vale, foi sepultado no Cemitério Municipal Velho, atrás da Igreja Matriz, na parte alta da cidade, às 12h30min. Djene Paula Las Casas, operador de máquinas e funcionário da Vale, foi enterrado às 17h. Há três cemitérios em Brumadinho. Dois são municipais: o Cemitério Velho e o Parque das Rosas. Um terceiro, Brumado, é privado.