— Só o trabalho dos equipamentos públicos no território vai dar uma solução melhor para esse menino ficar na escola, porque o fenômeno que temos hoje é que o estudante entra e sai da escola com uma frequência muito irregular. Ele vai uma semana, depois fica 15 dias fora, abandona naquele ano, no outro volta. Fica nesse vai e vem porque essas questões de fundo não estão endereçadas e nem resolvidas — ressalta Daniella.
O processo de evasão, muitas vezes iniciado na infância, se agrava ao longo dos anos, fazendo com que adolescentes cheguem ao Ensino Médio com defasagem significativa no aprendizado. A metodologia combate esse ciclo, ajudando a identificar as causas do abandono escolar e oferece soluções. A adesão ao programa é gratuita, permitindo que Estados e municípios em plataforma de recursos para implementação.
Na pandemia, o Unicef reconheceu o risco elevado de evasão e adaptou sua abordagem a contextos emergenciais. Este mês, a metodologia foi atualizada para sua terceira versão, incluindo diretrizes para situações como o acolhimento de crianças em abrigos durante crises ambientais, que por vezes ficam sem o à educação.
A equipe de Daniella visitou alguns municípios gaúchos durante a enchente e identificou problemas no registro dos acolhidos:
— Quando as famílias iam para os abrigos e eles faziam o levantamento demográfico dessas famílias, quem são, qual a idade dos filhos, essas coisas, ninguém levantava a idade educacional, qual era a escola em que a criança estava estudando, qual era a série. Quando visitamos abrigos, perguntávamos onde aqueles meninos estavam estudando, se a escola deles ainda existia, se já havia sido feito contato com a escola para avisar, e vimos que essa parte estava mais apartada desse momento de manejo de crise ali — pontua a oficial do Unicef.
Para ajudar a identificar os estudantes que não frequentam a escola, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) produz anualmente a planilha de não localizados. Na prática, é feito o cruzamento de dados do Censo Escolar de um ano e do ano seguinte que resulta na lista dos nomes que não foram encontrados em nenhuma instituição, seja pública ou privada.
Essa informação é disponibilizada somente para o coordenador operacional cadastrado daquela rede de ensino, que utiliza a listagem para iniciar a investigação do paradeiro daquela criança ou adolescente.
*A pauta desta reportagem foi selecionada pelo 6º Edital de Jornalismo de Educação, da Jeduca e da Fundação Itaú