
Era um pátio enorme, com árvores esparsas circundadas por bancos de madeira pintados de vermelho. Nos dias que não estávamos jogando vôlei ou praticando outra atividade física, ficávamos empilhadas naqueles bancos, gastando a hora do recreio em conversas adolescentes – o assunto eram os guris de outro colégio.
Naquela manhã de segunda-feira, as mais bonitas da turma estavam irrequietas, uma falava em cima da fala da outra. A festa do sábado anterior havia sido de fartura. Todas dançaram muito, foram paqueradas, uma delas engatou um namoro “sério” – já durava quase 48 horas. Todas elas, de certa forma, saíram daquele fim de semana meio casadas. Não eu, nem minha amiga Karin. Para nós, havia sido apenas uma festa a mais. Divertida, mas longe de ser o divisor de águas da juventude.
Quando o sinal bateu para chamar as alunas de volta à sala de aula, as bonitonas se afastaram aos cochichos e risadas. Foi quando minha amiga disse para mim: “Melhor a gente se acostumar. Vamos ficar pra tia”.
Isso tudo faz tempo, como o vocabulário entrega. Ela quis dizer que nós não teríamos a mesma sorte das beldades, que nós não teríamos a vida transformada em um conto de fada assim que nos tirassem para dançar, que não éramos o tipo de garota que atraía os rapazes (devorávamos livros como as outras devoravam esmaltes), nós não havíamos sido talhadas para o amor, melhor nos unirmos em desgraça e, em vez de sonhar em formar família, fundarmos uma biblioteca.
Não foi assim que ela falou, mas era este o recado. Ela estava me convocando para o limbo e oferecendo sua parceria como atenuante. Lembro de ter pensado: nós não fomos talhadas para o amor?? Nós quem">O oposto da pobreza