
Estavam casados há 31 anos. Então ele morreu de um ataque cardíaco fulminante. Num minuto estava sentado no sofá vendo o episódio de uma série, no outro estava com a cabeça jogada para trás, o controle remoto ainda na mão, já sem serventia. Sua vida saíra do ar.
As providências para os atos fúnebres foram tomadas pelos filhos. À viúva, coube escolher a roupa do morto e a sua própria, para receber as condolências. E lá se foram para a capela do cemitério cumprir o seu papel.
Chegaram os primos. Alguns ex-colegas do defunto. Os amigos e vizinhos do casal. A viúva apertou a mão de cada um, recebeu o abraço dos mais íntimos e não saiu do lado do caixão. Estava tranquila e conformada. Até que uma mulher, não encontrando nada melhor para dizer, comentou: ela não chorou até agora.
Esta frase caiu dentro do ouvido de outra mulher, que balbuciou: estranho. E virou-se para a mulher que estava à sua direita, como se estivesse brincando de telefone sem fio: ela não chorou até agora.
Outra mulher, que escutou tudo, pois havia silêncio suficiente para tal, concluiu: deve ter chorado quando encontrou o corpo. Outra, se achando entendida no assunto, contribuiu com um veneninho: será">Meus 40 anos