
Falam tanto em nome dele, que até parece que carregam uma procuração no bolso. Não há pronunciamento do governo em que Deus não seja invocado, como se fizesse parte da equipe ministerial, como se tivesse sido o patrocinador da campanha, como se houvesse aberto o voto. Até onde sei, Deus não vota. Votar é tomar partido e, se bem me lembro, estamos falando de um pai que tem uma família numerosa de filhos, não só 01, 02 e 03. Não que religião seja um assunto que eu domine ou particularmente me interesse, mas tenho certeza de que ele não tem sido consultado por essa turma que age como porta-voz de Sua Santidade.
O Estado tem de promover a justiça, a paz e a igualdade social sem interferir nas crenças da população. Somos livres para alimentar nossa alma do jeito que desejarmos, e ninguém deve impor sua escolha aos outros.
Deus acima de todos? Verticalidade é um conceito obsoleto que não promove laços, e sim obediência e rendição. Esta visão imperativa de Deus gera pensamentos fechados e coloca a nação de joelhos. E, se por um lado isso dá alívio e segurança a muitos, a mim parece que incentiva a submissão e a ignorância. Precisamos, ao contrário, ser incentivados a pensar por conta própria, a ter dúvidas, a aprender com nossos erros e a exercer nossa própria autoridade moral perante os fatos. Precisamos nos responsabilizar pelo que decidimos e pelo que nos acontece. Precisamos ser um povo que defende a sua vontade e luta por seus direitos.
Cada um tem seu Deus e isso deve ser respeitado. O meu é horizontal. Não está acima de todos, e sim ao lado. É expandido. No modo particular como lido com este assunto, nada combina menos com o simbolismo de Deus do que a imposição do maniqueísmo, da violência e das verdades únicas. Deus não governa. Deus inspira.