O estudo revelou que, no grupo das brasileiras, 78% tinham sido assediadas nos últimos seis meses. O assédio verbal veio em maior quantidade (41%), seguido por assovios (39%), comentários negativos sobre a aparência da pessoa em público (22%) e nas redes sociais (15%), pedidos de envio de mensagens de texto com teor sexual (15%), piadas feitas em público com teor sexual que as envolviam (12%), piadas por meio de redes sociais com teor sexual que as envolviam (8%), beijos forçados (8%), apalpadas (5%), fotos tiradas por baixo da saia (4%) e fotos íntimas vazadas nas redes sociais (2%).
Para 76% das mulheres, é confortável a ideia de contar a alguém o que ocorreu. Entre as meninas de 14 a 16 anos, 77% afirmaram que relataram o caso.
– Não se pode deixar ar uma atitude como essa, e o mais bacana ainda é o fato de querer falar sobre isso – afirmou Glauce.
Ela chamou a atenção para o fato de que frequentemente busca-se o caminho punitivo para enfrentar o problema, mas ressalta que esta não é a única maneira:
– É importante, mas nem tudo a somente pela penalização, a muitíssimo pela educação e pelo acolhimento dessa denúncia.
O estudo da ActionAid no Brasil indica que as ações que significam desprezo ou desrespeito pelas mulheres não são uma exclusividade do país. Três quartos dos jovens dos demais países incluídos na pesquisa revelaram casos de exposição a atitudes negativas ou ofensivas em relação a meninas jovens nos últimos seis meses. No mesmo período, 65% das mulheres ouvidas enfrentaram alguma forma de assédio sexual.
Pessoas da família (39%) e amigos (34%) dos jovens entrevistados estão entre os principais praticantes dessas ações para os brasileiros que afirmaram ter testemunhado algum tipo de atitude depreciativa contra meninas nos últimos seis meses.
– Pelo fato de acontecer na família e também com amigos, além de personalidades e autoridades, a gente vê que são círculos de influência muito diretos. São dados que chamaram muito a atenção do ponto de vista negativo – afirmou a gestora de Engajamento Público da ActionAid.
Apesar dos aspectos negativos, o estudo indicou fatos positivos após entrevistar jovens nos quatro países. Um dos aspectos positivos é que a conscientização sobre o assunto parece estar em crescimento nesta geração.
No Brasil, diante da pergunta sobre o nível de tolerância a determinadas agressões, 88% dos meninos e meninas consideraram inaceitáveis comentários negativos sobre a aparência das jovens. O percentual atingiu 85% para intolerância a piadas sexuais envolvendo garotas. Nesse quesito, o Brasil teve os melhores resultados entre os quatro países.
– Em todos eles, ambos os sexos responderam que são inaceitáveis. Este é um dado positivo na percepção de que não é uma prática correta – observou Glauce.
Outra fato positivo foi os jovens (80%) acreditarem que a educação é a maneira de resposta para combater o assédio a meninas e mulheres. No Brasil, 59% apontaram a necessidade de ensinar os meninos na escola como tratar as meninas. Ainda para as salas de aula, 54% disseram que a educação de meninas é medida importante para denunciar casos de assédio. Para 41% dos entrevistados, é preciso conscientizar os professores para que levem as denúncias a sério, como também é necessária a educação dos pais.
– É um dado interessantíssimo porque também se relaciona com a percepção de que, na família, também aparecem os comentários misóginos e haveria uma possibilidade interessante de que a escola seria o espaço de reflexão e de acolhimento desses problemas e, principalmente, dos principais influenciadores desses jovens que são os pais – disse Glauce Arzua.