— O fim é inevitável. Seu tipo está a caminho da extinção.

Maverick retruca com a habitual e sardônica autoconfiança:
— Talvez sim, senhor. Mas não hoje.

Sua resposta é transcendental. No nível da narrativa, serve como um comentário sobre a automação do trabalho, uma defesa das habilidades humanas — que incluem o afeto, a coragem e o improviso — diante da revolução tecnológica. Mas também funciona como um lema do próprio Tom Cruise, uma declaração de resistência.

Paramount / Divulgação
Tom Cruise e Jennifer Connelly em "Top Gun: Maverick"

Rodado em 2019, Top Gun: Maverick tinha estreia prevista para 24 de junho de 2020, mas daí veio a pandemia de covid-19. Cruise — que também atua como produtor — afirma que nunca cogitou lançar este ou qualquer outro título diretamente no streaming. Diz que seus filmes "são feitos para a tela grande" e reverencia a comunhão do público na sala de cinema, uma experiência irrepetível na sala de casa.  

Top Gun: Maverick também é uma continuação — ou um reinício, quem sabe? — que não aposta no rejuvenescimento para atrair as novas plateias (segundo pesquisas, a faixa etária que mais vai ao cinema é a dos 15 aos 24 anos). Aliás, Cruise, que completou 60 anos no dia 3 de julho, sequer se preocupou em convocar astros jovens para gravitarem em torno dele.

Abençoado pela genética e rigoroso no seu condicionamento físico, ele, apesar da idade avançada, segue dispensando dublês nas cenas de ação, como aquelas vistas na franquia Missão: Impossível (o sétimo filme estreia em 2023, e o oitavo, em 2024). O princípio vale para o restante do elenco também: Cruise ensinou todos a voar, em busca da maior autenticidade. Nenhum comanda de verdade os jatos — os atores trabalharam na companhia de pilotos —, mas as manobras vertiginosas e os combates acrobáticos são os mais reais possíveis. Colaboram para o clima de suspense e perigo a edição de Eddie Hamilton, acostumado a filmes do gênero, como Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010), Kingsman: Serviço Secreto (2014) e os segmentos 5, 6, 7 e 8 de Missão: Impossível.

Portanto, em Top Gun: Maverick a prática é coerente com o discurso de valorização do fator humano, tornando o filme um bem-vindo contraste à vigência dos efeitos visuais, dos personagens digitais e dos cenários gerados por computação gráfica (com a vantagem de oferecer um risco emocional muito raro nas aventuras de super-herói). Ainda se pode fazer mágica à moda antiga.

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