Há alguns anos, a maior rede social do mundo começou a implementar em toda sua "família de apps" — que inclui, além do Facebook, também Instagram e Messenger —, uma estratégia denominada "remover, reduzir e informar". Consiste em remover os posts que violam diretamente a política desses sites, reduzir a visibilidade de conteúdos que, mesmo dentro das normas, possuem pontos de atenção, e de informar melhor usuários sobre conteúdos sensíveis, para diminuir as chances de que sejam agentes e vítimas de notícias falsas.
Ao expor, em março, sua visão estratégica para transformar o Facebook nos próximos anos, seu CEO, Mark Zuckerberg, garantiu que a empresa está caminhando para se tornar uma plataforma "focada na privacidade" e concentrada na confidencialidade.
"Quando penso no futuro da internet, penso que uma plataforma de comunicações focada na privacidade será muito mais importante que as plataformas abertas atuais", considerou Zuckerberg, que, conforme o jornal The Washington Post, pode ser considerado responsável pelos casos de quebra de privacidade que envolveram a rede social nos últimos anos.
Mesmo essa intenção de garantir mais privacidade aos usuários, contudo, é alvo de críticas. A mudança rumo à troca de conteúdo com maior privacidade em uma plataforma com 2,2 bilhões de pessoas e longo histórico de problemas também causa preocupações.
— Essa mudança torna mais difícil para quem está por fora entender o que está acontecendo no Facebook. A desinformação é compartilhada entre usuários largamente através de serviços de mensagens privadas — argumenta Rasmus Nielsen, professor de Comunicação Política na Universidade Oxford.
O próprio Zuckerberg abordou essa preocupação, afirmando, em sua página, que encriptar as conversas é uma poderosa ferramenta de proteção online, mas que também pode ser usada por pessoas mal-intencionadas, e que a empresa precisaria adotar outras medidas para prevenir danos em potencial.
Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), atribui tamanhas idas e voltas, acertos e erros, a uma "crise de identidade" da rede social:
— É difícil identificar o que é o Facebook: se uma rede de relacionamento, um portal de notícias, um grande classificado de ofertas. A própria empresa não sabe qual seu papel. E as pessoas também ficam sem entender direito.
Em 2016, o Facebook deu início ao seu programa de checagem de informações. Foi um mês após a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, quando a disseminação de notícias falsas atraiu a atenção para a rede social e sua falta de atitudes a respeito. A iniciativa, que envolve 43 organizações ao redor do mundo, trabalhando em 24 línguas, consiste em utilizar ferramentas desenvolvidas pela empresa de Mark Zuckerberg para conferir conteúdo que foi marcado, por usuários ou pelos algoritmos da rede, como potencialmente falso.
Os verificadores conferem as informações, eventualmente produzindo até um "artigo explicativo". Usuários que tiverem compartilhado informações falsas recebem notificações, e a publicação perde força no feed do Facebook. Zero Hora conversou com um brasileiro que participa desse programa. Ele afirmou que a iniciativa é eficaz, mas tem alcance limitado — e o orçamento disponível para pagar os verificadores estaria diminuindo.
— Essa parceria é importante, mas seria preciso ir além. Nosso impacto, sem maior incentivo e visibilidade por parte do Facebook, é bem — descreve um dos verificadores, que assinam contratos exigindo sigilo sobre sua identidade e funções.
Ainda assim, houve avanços: em fevereiro, o Facebook comemorou o resultado de um estudo conduzido por pesquisadores das universidades de Michigan, Princeton Exeter e Washington identificando que o consumo de notícias falsas na plataforma tem diminuído desde as eleições de 2016 nos Estados Unidos. Outras três pesquisas, de instituições diferentes e com outras metodologias, também apontaram redução no volume de notícias falsas circulando no Facebook.
"Apesar de nos sentirmos encorajados por esses estudos, sabemos que a desinformação é algo altamente contraditório e estamos comprometidos ao nosso papel no esforço de longo prazo que combater as notícias falsas vai exigir", afirmou a rede social, em nota.