
David da Silva Lemos foi condenado, nesta quarta-feira (14), por matar os quatro filhos em Alvorada, em 2022. A sentença é de 175 anos de prisão por três homicídios triplamente qualificados e um homicídio quadruplamente qualificado. Lemos está preso desde a época do crime e não poderá recorrer da decisão em liberdade.
Ele matou os quatro filhos Yasmin, 11 anos, Donavan, oito, Giovanna, seis, e Kimberlly, três. As crianças foram encontradas com marcas de facadas e uma delas com sinais de asfixia. A acusação apontou que o motivo dos assassinatos seria atingir a mãe das crianças, com quem já não tinha um relacionamento.
Como foi o julgamento
Às 21h03min desta quarta-feira (14), o juiz de Direito Marcos Henrique Reichelt, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Alvorada, proferiu a sentença após julgamento de dois dias: Lemos foi condenado a 175 anos de prisão.
Entre as qualificadoras dos homicídios, estão motivo torpe, emprego de meio cruel, asfixia e por as vítimas serem menores de 14 anos. No caso de Giovanna, outra qualificadora foi adicionada: emprego recursos que dificultaram a defesa da vítima. A menina de seis anos foi esfaqueada pelas costas.
Dois anos e cinco meses após a trágica noite de 13 de dezembro de 2022, a família das vítimas respira mais aliviada. No plenário, se emocionaram e se abraçaram com a sensação de justiça.
— Já é um alívio saber que ele só sai de lá (da prisão) morto. É isso que eu espero. Não é ameaça nem nada, porque eu não tenho todo esse poder. Mas é um desejo meu, pelo que ele fez com meus filhos — desabafou Thays da Silva Antunes no fim do júri.

Como foi o depoimento da mãe
No primeiro dia do julgamento, Thays da Silva Antunes foi ouvida. No depoimento, a mãe das crianças observou que o crime abalou sua saúde física e psicológica.
— Eu só queria que os meus filhos saíssem lá (da casa onde foram mortos) e fossem embora comigo. E não foi isso que aconteceu — contou Thays da Silva Antunes.
O primeiro a prestar depoimento na terça foi o delegado que comandou as apurações no dia do fato, Augusto Zenon de Moura Rocha. Ele afirmou que as crianças foram mortas uma a uma, enquanto iam sendo colocadas para dormir. Segundo a polícia, ao ser preso, o homem confessou ter cometido o crime. Ele teria afirmado, ainda, que deu calmante às crianças antes da morte. No entanto, na delegacia, durante o depoimento e acompanhado de um defensor público, permaneceu em silêncio.
Pai usou filhos para causar dor à ex-companheira, argumenta acusação
Nesta quarta-feira, foram realizadas as explanações da advogada de acusação, do Ministério Público e dos advogados do réu. Também foi aberto espaço para interrogatório do acusado, mas Lemos preferiu ficar em silêncio.
— A mãe não pôde ver o rosto dos quatro filhos nos caixões, porque foi tão cruel, que os caixões ficaram fechados. Ela não pode dar um beijo na testa e olhar o rosto deles uma última vez — afirmou a advogada Gabriela Souza, assistente de acusação.
A advogada completou, ainda, que o pai das crianças "teve chances de parar" com o crime, mas que "escolheu" matar os menores:
— Ele teve muitas chances de parar. E ele escolheu matar essas crianças porque soube que o relacionamento dele com a ex-companheira havia terminado — acrescentou Gabriela.
A acusação também contou com o trabalho dos promotores de Justiça Plínio Castanho Dutra, Leonardo Rossi e Daniela Fistarol.
Em complemento à fala da advogada, o promotor Plínio Castanho Dutra também reiterou a tese de que o homem usou os filhos para causar dor à ex-companheira:
— Tornou eles um instrumento de tortura contra a mãe (...) Não existe sentença grande, intensa, forte o suficiente pra punir o que esse homem fez contra essas crianças.
Defesa afirma que faca não tinha material genético do acusado
Já a defesa sustenta que não foi Lemos que praticou o crime. A defesa afirma que análises de materiais periciados, como na faca utilizada no crime, não concluíram pela presença de material genético dele.
— A ânsia era tanta de culpar alguém que se deixou ar muita coisa, e muita pergunta não foi respondida neste processo — afirmou a advogada Thaís Constantin.
Também representam Lemos os advogados Deise Dutra e Marçal Carvalho.
Durante o interrogatório, também na tarde desta quarta, David da Silva Lemos optou por ficar em silêncio.
"Ele era ausente com as crianças", contou tio
Mais cedo, nesta quarta, o irmão de Thays da Silva Antunes, mãe das crianças, foi ouvido nesta quarta como informante.
Ele relatou morar no mesmo terreno que o casal e os filhos, e que o relacionamento entre Lemos e Thays era instável: eles terminam e retornavam, o que o descontentava. O tio afirmou ter orientado que ambos se separassem para resolver a situação.
O tio disse não ter presenciado agressões físicas por parte do réu contra a mãe e as crianças. No entanto, afirmou que Lemos aparentava ser distante dos filhos. Kimberlly, três anos, a vítima mais nova, era com quem ele tinha mais proximidade, conforme o relato.
— Notava que ele era ausente com as crianças. Não via entrosamento com elas. Pouca vezes notei ele brincando no pátio com as crianças — disse o tio.
Em 2022, Lemos itiu o crime à Polícia Civil
Em reportagem publicada em Zero Hora no dia 28 de dezembro de 2022, a Polícia Civil disse que Lemos itiu que pretendia atingir a ex-companheira, mãe das crianças:
— Ele alega que amava demais a mãe das crianças e que na hora teve um surto — afirmou, à época, o delegado Edimar Machado, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Alvorada.
Ainda segundo o policial, Lemos afirmou que acreditava que a ex estava se relacionando com outra pessoa. O fato de ele não aceitar o fim do relacionamento teria sido a motivação, no entendimento da polícia, para os crimes contra as crianças