“Minha pequeninha. Sei que não voltar”

Quando soube que a filha estava grávida, a mãe imaginou que Gabriela tomaria novo rumo. Mas, logo que a criança completou um mês, o laço materno com o menino ficou estremecido. Ela reclamava que seria trabalhoso cuidar do pequeno. A avó, preocupada, assumiu a responsabilidade. Com o dinheiro da pensão do pai, cerca de R$ 300, colocou o menino em um creche no período que trabalhava.

— Se falasse alguma coisa, ela gritava e dizia que já tinha 18 anos – lembra.

Segundo a polícia, a jovem tinha antecedentes por roubo e agressão. A família acrescenta que Gabriela chegou a ficar internada na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) pelos delitos.

Ainda desolada com a perda, a mãe da jovem não esconde a raiva com o autor do crime. Ao mexer em fotos de Gabriela quando criança, soluça:

– Minha pequeninha. Sei que não vai trazê-la de volta, mas queremos justiça. Quero ele atrás das grades.

Gabriela ainda deixa dois irmãos e o pai, que é separado da mãe.

Na Polícia Civil, análise de câmeras e depoimentos


A polícia apura a morte de Gabriela da Rosa Silva, 18 anos, como feminicídio – quando o assassinato de uma mulher é motivado por questões de gênero. O corpo da jovem foi encontrado na manhã de quarta-feira dentro de um quarto de motel na zona sul de Porto Alegre.

Conforme a delegada Tatiana Bastos, há duas circunstâncias que fortalecem a tese de feminicídio – basicamente relacionadas à dinâmica do crime. A primeira delas é violência sexual e física sofrida pela vítima – com lacerações e lesões pelo corpo. Tatiana observa que esses indícios eliminam a tese de uma possível ligação com o tráfico de entorpecentes – já que a mulher era usuária de drogas.

— Não é comum ter crime sexual em ocorrências ligadas ao tráfico de drogas. Neste caso, ela foi tratada de maneira vil (com desprezo) pela questão de gênero — salienta a delegada.

Além disso, a escolha do motel como local do crime reforça a hipótese de feminicídio. Segundo a delegada, o suspeito do assassinato pagou antecipado o pernoite, o que demonstra a disposição de permanecer no estabelecimento e revela que os dois se conheciam há tempos. A jovem morava com a mãe no bairro Restinga, na Zona Sul, e deixa um filho de seis meses com um ex-namorado. A polícia apura se a rotina de Gabriela envolveria programas.

— Não era uma coisa declarada, mas a família desconfiava. Não tinham muito controle — conta a delegada Tatiana.

A delegada obteve imagens de câmeras e está analisando o material. A intenção é descobrir a placa do veículo utilizado pelo assassino. Familiares, amigos e outras pessoas foram ouvidos pelos investigadores, mas é desconhecida a motivação do crime.

— Eles se conheciam e tinham algum tipo de relacionamento. Alguma coisa aconteceu para ela ser agredida dentro do motel, que ainda não sabemos.

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