Entre os homens, dificuldade de ereção 

Entre a parcela masculina da população acima de 60 anos, estima-se que 50% enfrentem algum tipo de problema relativo à atividade sexual. A mais comum entre os latino-americanos, aponta o urologista Claudio Telöken, é, disparado, a disfunção erétil (incapacidade de conseguir ou manter uma ereção).

– Ainda estamos tratando de pessoas com uma educação parca na sexualidade. Sexo, para essa faixa etária, ainda é coito (penetração vaginal). Eles não exploram outras possibilidades. Um dos fatores de risco para a disfunção é a falta de educação – explica Telöken, professor livre-docente da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFSA) e chefe do programa de residência médica em Urologia da UFSA e da Santa Casa. 

Na sequência de problemas mais frequentes, vêm ejaculação precoce, ejaculação retardada, anorgasmia (ausência de orgasmo) e não percepção de comemorativos eróticos (o homem não observa pessoas que poderiam atraí-lo ou não assiste a vídeos de conteúdo sexual, por exemplo, em muitos casos como consequência de uma educação repressora). Essas alterações estão diretamente ligadas a seu estilo de vida no decorrer do tempo – sedentarismo e mudanças metabólicas têm um grande impacto. Maus hábitos, vícios, alimentação não balanceada, obesidade, insônia, ronco com apneia ou doenças não tratadas adequadamente, como o diabetes, podem afetar diretamente a saúde sexual. Como as mulheres, eles também precisam checar os níveis de hormônios e, se necessário, submeter-se a uma regulação. 

Encarar um urologista ou andrologista para falar de problemas sexuais é um desafio – até mesmo intransponível – para alguns homens. Muitas vezes, o paciente não se abre, e o médico, por outro lado, não pergunta nada. Uma boa avaliação do médico da família deve incluir a apalpação da genitália e dos mamilos. 

– Estamos subdiagnosticando e subtratando – constata o urologista. 

Questões de origem sexual também levam à abdicação do convívio social e ao isolamento. Um homem que antes frequentava festas e jantares pode desistir de ir a esses eventos pelo receio de conhecer alguém e a relação evoluir para um estágio de maior intimidade. A repressão familiar – os filhos que rejeitam a ideia de o pai voltar a namorar depois da morte da mãe, temendo uma eventual necessidade de partilha de bens com a madrasta, por exemplo – também contribui para abalar o idoso. Estar em ambientes onde possa encontrar diferentes gerações, ressalta a sexóloga Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, é altamente benéfico: 

– Se ele não se mantém ativo, acaba vivendo em torno de uma monotonia, de uma mesmice, não está se atualizando. Isso é muito importante para que ele se sinta fazendo parte da sociedade, e não uma figurinha já fora do álbum, embora, às vezes, prefira ficar em casa vendo um filminho a sair para a festa de aniversário do neto. 

Assim como a depressão atrapalha a sexualidade, uma vida sexual insatisfatória ou inexistente também acarreta humor depressivo

– O idoso começa a ficar caseiro, triste. A prevalência de suicídio na idade avançada tem muito a ver com essa parte sexual – alerta Telöken.

A utilização de medicamentos que estimulam a ereção deve ser discutida no consultório, para que interações com outras drogas que o paciente já toma não tragam mais prejuízos – como hipotensão e bradicardia (diminuição da frequência cardíaca) – do que benefícios. Injeções no pênis e próteses penianas ainda são utilizadas, de acordo com a situação. 

– Ninguém vai ficar sem tratamento. Existe alternativa para rigidez peniana, melhora de libido e controle ejaculatório. O indivíduo não pode se conformar, ele está neste mundo para ser feliz. Do ponto de vista instintivo, um orgasmo adequado para um idoso de 80, 85 anos é a glória, devolvendo-lhe a alegria de viver – diz Telöken.

Relacionamentos longos, dedicação também

Décadas e décadas de casamento não podem desobrigar o casal de investir na relação. Um relacionamento respeitoso, baseado em trocas, carinho e atenção, é pré-requisito básico para manter a vontade de transar e obter satisfação na cama. Mágoas e ressentimentos que se acumulam e crescem durante os anos, segundo a sexóloga Carmita Abdo, fazem com que os parceiros percam o interesse no sexo. 

– Se casais trabalham essas questões ao longo da vida, vão chegar a uma idade mais madura com o ganho da intimidade. Quem não envelheceu com uma qualidade boa no relacionamento se distancia – afirma Carmita.

A idade avançada não deve causar constrangimento para que os companheiros procurem um terapeuta, caso não consigam dissolver suas desavenças sozinhos. 

– Os pontos de discórdia vão se tornando, às vezes, intransponíveis. “Ah, mas já estamos velhinhos, para que fazer terapia?”. Porque a vida vai até os cem – encoraja a sexóloga. 

Além de problemas musculares e de articulações, que comprometem a mobilidade e a agilidade, outras mudanças do corpo tornam a relação sexual diferente na terceira idade. Por mais que existam recursos, há de se ter uma certa dose de conformismo para lidar com a queda no desempenho de maneira geral. Tudo que tem a ver com os sentidos – visão, audição, tato – interfere na sexualidade, pontua Carmita. A menopausa provoca não apenas a secura vaginal destacada pela ginecologista Maria Celeste, do HA, mas também a diminuição da sensibilidade da pele, e as parceiras respondem menos às carícias que outrora foram extremamente excitantes. O homem terá necessidade de estímulo tátil para conseguir uma ereção, as ejaculações não serão tão volumosas, e o jato ejaculatório ficará bem mais curto. A duração do intercurso pode diminuir – por desconforto, falta de fôlego ou de potência – ou até mesmo aumentar, já que a mulher talvez leve mais tempo para se excitar. A musculatura das partes íntimas também muda: a vagina fica menos túrgida e mais flácida. 

– São mudanças físicas naturais. Às vezes, é difícil as pessoas entenderem que o aparelho genital também envelhece – aponta Carmita.

O que fazer para ter uma vida sexual mais saudável

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