
Um bebê de um ano está em coma no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HA) após ter recebido uma dosagem de metadona 10 vezes superior à prescrita pela equipe médica, conforme prontuário que a reportagem teve o.
O caso aconteceu no início de maio e foi registrado pela família na Polícia Civil. O hospital instaurou apuração interna (leia nota abaixo).
De acordo com a família, o bebê estava internado para a realização de duas cirurgias devido a problemas no sistema digestivo. A família não será identificada, para preservar a criança.
A reportagem teve o ao prontuário médico da criança, que mostra que, em 7 de maio, dois dias após as operações, pela manhã, houve a prescrição de metadona 0,1 mg de seis em seis horas. O medicamento é utilizado contra dor e para sedação do paciente.
Ainda no mesmo dia, a dose do medicamento aumentou para 0,8 mg. Naquela noite, por volta das 23h15min, a mãe do bebê notou que ele estava “roxo” e sem respirar. Teriam sido 8 minutos até reanimarem. Logo após, o menino foi entubado.
— Eu estava olhando para ele, estava sentindo uma coisa estranha. Até que ele virou de bruços, com a cara reta no travesseiro. Achei estranho e quando virei já vi o braço mole — afirma a mãe, que tem 19 anos.
No dia seguinte, a equipe verificou que o bebê teria sido submetido a uma dosagem 10 vezes superior ao que estava prescrito.
Desde então, o menino está em coma. No prontuário, a metadona é citada como causa provável de parada cardiorespiratória em múltiplas evoluções médicas e neurológicas.
— Todos os dias têm sido difíceis, não é uma coisa que a gente espera acontecer. Agora, temos de estar, eu e minha família, esperando, sem saber o dia que ele vai acordar. Isso nos causa ansiedade, medo, mas tenho fé em Deus — conta a mãe.
Antes dessas cirurgias, ele já havia realizado outros seis procedimentos, todos no Hospital de Clínicas.
Prejuízo na função cerebral
A família levou o caso até a ouvidoria da instituição. Em reunião com os familiares, a equipe médica itiu que há um prejuízo na função cerebral dele em decorrência do uso do medicamento, segundo relato da mãe.
Em nota, o HA afirma que o caso “está sendo apurado com profundidade dentro dos fluxos institucionais”.
“Desde o primeiro momento, o Clínicas vem mantendo sucessivos e transparentes contatos com a família”, diz o texto.
O hospital confirma que há profissionais que foram afastados após o caso, mas não detalha quem nem quantos.
O que diz o HA
"O Hospital de Clínicas de Porto Alegre confirma que ocorreu um evento grave durante o atendimento de uma criança internada na instituição, provavelmente relacionado à istração de medicação analgésica no cuidado pós-operatório. Desde o primeiro momento, o Clínicas vem mantendo sucessivos e transparentes contatos com a família e lamenta profundamente o ocorrido. Temos prestado acompanhamento integral ao paciente, à família e às equipes assistenciais, oferecendo atendimento multidisciplinar com e médico, psicológico e de outras áreas.
O caso está sendo apurado com profundidade dentro dos fluxos institucionais, para se entender a cadeia de eventos, com foco na melhoria contínua de processos e protocolos. O hospital reforça seu compromisso com a segurança e com a qualidade da assistência prestada na instituição e informa que, com a análise deste fato, já estão sendo adotadas medidas preventivas e corretivas."