
Escolas estaduais de Caxias do Sul enfrentam mais um desafio: a falta de merendeiras no quadro funcional. Em levantamento feito pela reportagem, ao menos 12 colégios informam que não estão com o quadro completo — é pelo menos um servidor a menos. A consequência disso, muitas vezes, é que outros funcionários e membros da direção se veem obrigados a auxiliar na cozinha para que todas as refeições sejam servidas aos estudantes. Há escolas no município que trabalham em três turnos e podem ter que servir até mais de mil refeições ao dia.
A reportagem obteve resposta de 35 das 54 escolas estaduais do município. Nas instituições que registram faltam de merendeiras, o quadro é de sobrecarga para servidores que atuam nos locais ou de acúmulo de função para outros profissionais. De 12 colégios, em oito as direções informam que estão com falta de uma merendeira, enquanto em outros quatro a falta é de dois servidores.
Um dos locais com a falta de dois profissionais é o Colégio Estadual Imigrante, que tem 1,4 mil estudantes, no bairro Bela Vista. A diretora, Simone Comerlato, relata que cerca de 1,2 mil refeições são servidas em três turnos. O quadro ideal seria de seis merendeiras — mas, atualmente, quatro estão contratadas.
— Nós estamos ajudando. Uma ajuda aqui, outra ali. É supervisão, direção, todo mundo ajuda um pouco para poder dar conta de tudo — descreve a diretora.
O caso é semelhante na Escola Estadual de Ensino Médio Maria Araci Trindade Rojas, onde também há falta de duas merendeiras. No turno da noite, como explica a diretora, Isis de Lima, uma funcionária da limpeza ajuda a única servidora disponível na cozinha.
— À noite só tem uma pessoa, principalmente na parte para limpar. Não é tanto o preparo, mas sim a organização da cozinha e limpeza dos utensílios — conta Isis, calculando que são servidas entre 600 e 700 refeições por dia na escola do bairro Santa Lúcia.
Remuneração mínima, trabalho sobrecarregado
Conforme edital publicado no fim de 2022 do Governo do Estado, o salário mínimo de um servidor escolar de carreira é de R$ 1.345,46, um pouco acima do salário mínimo nacional vigente. Em processo seletivo do ano ado, este era o pagamento proposto para candidatos, para uma carga horária de 40 horas semanais.
O pagamento mínimo, para um trabalho que em muitas escolas está sobrecarregado, é o que chama atenção do vice-diretor da Escola de Ensino Médio Ivonne Lúcia Triches dos Reis, Milton Domingues. Como justificativa, as escolas ouvem do Estado que existe vagas abertas, mas não apareceriam interessados, ou que o processo seletivo está em andamento.
Domingues relata que a instituição do bairro Desvio Rizzo faz parte de um programa-piloto do Estado, em que duas refeições por turno são servidas aos alunos (lanche e almoço). Consequentemente, há uma maior demanda.
Hoje, são três merendeiras contratadas para três turnos. Mas, a instituição precisa de mais duas para cumprir o programa proposto para a escola de cerca de 500 alunos.
— Tem o lanche de manhã e no final o almoço. Meio-dia, antes dos alunos saírem, eles almoçam na escola. Os alunos que entram, almoçam também. Depois, no meio da tarde, tem lanche. Na noite, da mesma forma. O pessoal de outros setores têm que dar apoio. Mas, é bem puxado — relata Domingues.
A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) foi questionada pela reportagem sobre a falta de profissionais, mas não se manifestou. Já a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE) afirma que existe processo seletivo vigente em que são aguardados candidatos.
Conforme o levantamento, pelo menos 10 das 12 escolas sem o quadro completo são vagas que devem ser preenchidas por empresa terceirizada, que venceu licitação do governo estadual para gerenciar as contratações. As direções de escolas ouvidas pela reportagem relatam que estas vagas costumam ter maior rotatividade, uma vez que as merendeiras desistiriam por momentos de falta de pagamento ou pelo salário.
Na terça-feira (20), por exemplo, merendeiras contratadas a partir de empresa terceirizada realizaram paralisação em Caxias do Sul porque estavam com dois meses de salários atrasados. O Estado justificou de que houve a falta de pagamento por um atraso de documentação da empresa terceirizada Always, o que impossibilitou o ree. Já a empresa informou que fez os rees corretos dos documentos. Na última sexta-feira (23), os salários atrasados já haviam sido pagos às trabalhadoras.
Vagas abertas
Conforme o setor de recursos humanos da empresa Always, existe processo seletivo para preencher as vagas. A terceirizada informa que tem dificuldade em encontrar interessados. As vagas disponibilizadas são para cargos de 40 horas semanais, salário de R$ 1.639,00 (com insalubridade), vale-alimentação e vale-transporte com descontos em folha. A empresa recebe currículos pelo e-mail [email protected].