
Criado em 2022 pelos gaúchos Maurício Allgayer e Rogério Vinícius, o aplicativo WAG (We Are Good) é uma plataforma que funciona como uma espécie de rede social do bem, com o propósito de incentivar as pessoas a praticarem boas ações. E amplia sua atuação ao lançar o WAG Empresas. A primeira empresa a fechar contrato nesta modalidade é da Serra, a Bigfer, com sede em Farroupilha. A companhia é também uma das mais recentes a criar um instituto voltado para o social.
Com cerca de 2,1 mil colaboradores, a gerente de Recursos Humanos da fabricante de órios para móveis, Letícia Alexandrini Battisti, disse que o espírito solidário sempre esteve no DNA da empresa familiar. E, por isso, foi fácil “dar match” com a plataforma em que são publicadas as boas ações que são convertidas na moeda virtual chamada WAG. Esses “WAGs” são doados para as necessidades de instituições cadastradas no aplicativo, sendo viabilizadas por empresas parceiras ou pessoas físicas, convertendo a moeda virtual em dinheiro no mundo real.
Tudo que for gerado pelas boas ações dos colaboradores vão para a conta da Bigfer no WAG Empresas, permitindo que a companhia monitore e incentive o engajamento de seus colaboradores com ações sociais. Além disso, as necessidades escolhidas pelos colaboradores serão viabilizadas pelo Instituto Bigfer. A divulgação da parceria do Instituto Bigfer com o WAG ocorreu na Semana Nacional das Boas Ações. Os funcionários que baixavam o aplicativo ganhavam um pão, um alimento cujo simbolismo do compartilhamento é muito presente.
E a corrente do bem envolvendo empresas da Serra parece estar só começando: a rede Galeto Mamma Mia, de Gramado, já entrou em contato com o WAG e prometeu doar 2 mil pacotes de espaguetes artesanais para os colaboradores da Bigfer que postarem boas ações no aplicativo.
A seguir, confira entrevista com Allgayer, da WAG, e Letícia, da Bigfer:
Como surgiu a ideia do app?
Allgayer: Foi bem antes da pandemia, só que demorei muito a criar o aplicativo, porque não sabia como fazer. Para mim, que sou engenheiro civil, era algo muito distante. Em uma viagem entre amigos, eu conheci o Rogério (Vinícius). Vi que era diretor de Tecnologia de Informação de uma empresa e entendia muito do assunto. Quando contei a ideia, ele falou: “nossa, eu me apaixonei por isso aí, tô junto, pode deixar que eu desenvolvo o aplicativo”. E hoje temos o Liandro Soares como gerente. A gente mantém nossas profissões e ainda não tem rentabilidade nenhuma no aplicativo. Não monetiza. Tudo o que existe hoje foi um investimento meu e do Rogério, contando com algumas pessoas que nos ajudaram de forma voluntária. Mas o app está crescendo. Vamos ver alguma forma de ter receita para bancar os custos.
E quantos “ativos” estão atualmente dentro do app?
Allgayer: Hoje, a gente tem sete beneficiários: a Kinder, entidade filantrópica que educa e reabilita mais de 300 bebês, crianças e adolescentes com deficiências múltiplas; a Spaan, instituição de longa permanência de idosos; a Só Bebê, ONG que acolhe bebês de três meses a três anos em situação de vulnerabilidade social; a Rasteira na Fome, fundada para combater a fome e valorizar a cultura Afro-brasileira; o Espaço Morro da Cruz, que fomenta a economia criativa; a Mobis, que trabalha com educação para a cidadania; e agora o Instituto Bigfer. O diferencial do app para empresas é que todos os colaboradores que postarem boas ações têm elas geradas na conta da empresa. Além de conseguir ver quem faz o bem, será possível conhecer as empresas que têm mais colaboradores que fazem isso. É legal até mesmo quando tu contratas alguém, dá para saber se funcionário é alguém que faz o bem.
Como ocorreu a primeira parceria fora da Capital?
Letícia: A gente se conheceu por meio do médico Gustavo Bolognesi, de Farroupilha. Ele é psiquiatra e estruturou um serviço de psiquiatria no instituto. Atua como um consultor. Um dia, disse que precisava nos apresentar para o Maurício, porque ele mora em Porto Alegre e trabalha uma vez por semana aqui em Farroupilha. É que uma das boas ações sugeridas na plataforma é indicar um amigo que esteja precisando buscar atendimento médico. E acho que é um problema de todas as empresas hoje essa questão da saúde mental. É um problema mundial.
Como surgiu a ideia de criar um instituto e transformar essas ações solidárias que sempre faziam em um novo CNPJ?
Letícia: A questão da solidariedade está no sangue. Sempre fizemos muitas ações para ajudar o pessoal, não só funcionários, mas toda a comunidade, a associação do bairro, a escola. Na pandemia, em setembro de 2020, a gente se reaproximou da Márcia Faé, que hoje é a gestora executiva, e ela veio como uma ideia de a gente trabalhar algo na linha da saúde mental para dar um apoio e até, se fosse necessário, transformar em ajuda material. Se o pessoal estava ando por dificuldade financeira. Até ajudar com tratamento de saúde, que na época precisava muito. Começamos a estruturar um pouco melhor e tirou do papel o projeto Acolhida. No início era para ser uma escuta das pessoas, mas foi o embrião para a criação do instituto, que hoje tem várias ações.
O que é hoje o carro-chefe?
Letícia: A gente tem três frentes. Uma delas é a assistencial, com as doações de materiais, alimentos, medicação, fraldas, produtos de limpeza e de higiene, enfim, ajudas materiais emergenciais. A ideia é fazer um acompanhamento com a família para que também se organizem e consigam se virar e mudar de vida realmente. O outro braço é educacional. A gente tem um projeto forte de contraturno escolar. Por enquanto, temos duas turmas, são 40 alunos, 20 em cada turno, mas estamos reformando um prédio, vamos ar para nove turmas, com 180. Pela quantidade de pessoas envolvidas, o braço educacional vai acabar sendo o nosso carro-chefe. Junto também disso, temos alguns cursos profissionalizantes.
Allgayer: O legal com o app é que os funcionários vão poder escolher para qual dessas causas dentro do instituto eles vão doar? Eles podem votar, por exemplo, para doar para mais vagas no contraturno escolar. Essas decisões nas empresas costumam ser da diretoria. É desenvolver o engajamento de todos.
Letícia: Para complementar, o terceiro braço é o da saúde, com um foco mais em saúde mental. Oferecemos psicoterapia e temos mais uma médica que atende a área da psiquiatria.
Foram inspirados a enveredar nessa área por conta da pandemia?
Letícia: Um pouco também juntou com a minha formação, porque eu sou psicóloga de formação. Sempre tive em mente tentar ouvir as pessoas. O trabalho, a princípio, não deveria ser misturado com as questões pessoais, mas isso é impossível. Teoricamente, a empresa não pode trazer para dentro os problemas dos funcionários. É separação, é problema com filho que usa drogas, problemas disciplinares na escola, dívida, luto… São situações da ordem da saúde mental e a gente percebeu que a psicoterapia é ainda elitizada. O serviço e o instituto é aberto a toda comunidade. Não é aos profissionais da Bigfer.