Mapa mostra áreas mais atingidas pela cheia dos rios em Porto Alegre e região.

— No caso da renda, é muito demarcado. Se viu que as áreas alagadas são, principalmente, as áreas mais pobres. Não só (regiões de menor renda). Mas, na maioria dos casos, as áreas mais próximas dos rios que alagaram são as áreas mais pobres — diz.

Até esta quarta-feira (22), as cheias deixaram 161 mortos, com 581.633 desalojados e 68.345 pessoas em abrigos.

Um mapa cruza os dados de renda com as inundações provocadas (mancha cinza) em Porto Alegre e cidades vizinhas como Eldorado do Sul, Guaíba, Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Alagamento na Avenida Assis Brasil, no bairro Sarandi.

A análise usa dados do Censo 2010 e considera apenas as áreas alagadas. Dessa forma, o estudo não trata de outros tipos de impacto observados nessas cidades, como a falta de água e energia elétrica ou dificuldades de locomoção por problemas em estradas, avenidas e ruas.

André Augustin observa que, em cidades como Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo, as áreas de baixa renda correspondem a locais que foram alagados pelo cheia do Rio dos Sinos.

Em Porto Alegre, o principal impacto foi no bairro Arquipélago, composto pelas ilhas do Delta do Jacuí. A região, historicamente, convive com os alagamentos. 

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Bairro Arquipélago no dia 2 de maio.

— A gente já via no caso das ilhas que já acontecia — diz Augustin.

Nessa área, a situação de alagamento, provocada pela cheia do Guaíba, ainda é crítica. Sem poder voltar para casa, mais de 200 moradores da região estão improvisando moradia.

O padre Rudimar Dal'Astra, responsável por uma paróquia no bairro, é um dos que precisou sair de casa.

— Essa resistência dos moradores das ilhas ficarem aqui no local é algo que, cada vez mais, me impressiona. Não deixar a sua casa, não deixar o seu lugar, não deixar o seu lar. Isso é algo que mexe muito com a gente — comenta o religioso.

No entanto, as águas avançaram sobre pontos da Zona Norte, como os bairros Humaitá e Sarandi, também de menor renda. Esses locais foram atingidos pelo Rio Gravataí, principalmente. Já na região central, bairros como Menino Deus e Cidade Baixa, também foram atingidos – pelo Guaíba e pela água não bombeada após falhas no sistema anticheias.

Em Eldorado do Sul, o impacto foi generalizado: a água inundou tanto os locais mais pobres quanto condomínios de alto valor erguidos nas margens do Guaíba.

Cor e raça

Observatório das Metrópoles / Divulgação
Relação entre raça e cor e as inundações na Região Metropolitana de Porto Alegre.

Além do rendimento, a pesquisa observou a relação entre cor e raça com as inundações. Tanto pessoas negras quanto brancas foram atingidas, aponta Augustin. No entanto, os bairros mais afetados têm uma proporção maior de pretos e pardos em comparação com a média das cidades observadas.

Jefferson Botega / Agencia RBS
Eldorado do Sul ficou com vários bairros submersos.

— No caso da raça, há alguns bairros da zona norte de Porto Alegre com a população negra acima da média da cidade. A mesma coisa em os outros municípios, como São Leopoldo, de colonização alemã — explica o pesquisador.

Quanto mais forte o tom de laranja e vermelho (mapa acima), maior a presença da população negra nos municípios.

— Não só já eram os mais pobres e mais negros. Eles, quando são atingidos, sofrem mais — diz André Augustin.

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