Em setembro de 2019, Pereira tirou licença, sem remuneração, ao ser destituído da função de coordenador-geral da Funai no Vale do Javari, após deixar garimpeiros furiosos. Ele foi peça decisiva na destruição de 60 balsas que mineravam ilegalmente no Rio Jandiatuba, situado na Terra Indígena, onde vivem 19 povos indígenas isolados. É a mesma região onde ele e Philips desapareceram.
Os irmãos Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos, e Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, estão presos temporariamente pelo crime. O primeiro a ser detido foi Amarildo, em 8 de junho, três dias após o desaparecimento. O segundo suspeito de participação nos desaparecimentos, Oseney, foi capturado na terça-feira (14). Ambos tiveram a prisão temporária de 30 dias decretada.
Amarildo confessou o crime, conforme a PF. Na quinta-feira (16), a corporação declarou que a investigação foi ampliada e que, agora, cinco pessoas estão sendo investigadas por participação no caso — os demais, contudo, não tiveram os nomes divulgados.
Amarildo foi preso após policiais civis encontrarem com ele munição sem procedência legal e drogas. Pesam também contra ele as ameaças que teria feito ao indigenista e o fato de estar no local presumido para o desaparecimento.
No barco dele foi encontrado sangue, que está sendo periciado. A Marinha encontrou ainda vísceras humanas boiando num rio na região das buscas, reforça relatório da PF. Pertences dos dois também foram achados na água.
Já o irmão dele, Oseney, foi visto nas proximidades de onde o barco do indigenista e do jornalista desapareceu e onde foram encontrados os pertences. Havia um cartão de saúde, uma calça, um chinelo e um par de botas pertencentes ao indigenista em uma mochila. No local, também estavam um par de botas e uma mochila com roupas de Phillips.
Segundo a investigação, Amarildo narrou com detalhes o crime e se comprometeu em apontar onde havia enterrado os corpos. Equipes da PF se deslocaram na manhã de quarta-feira em direção ao local indicado por ele. O local onde os vestígios humanos foram enterrados era de difícil o, mais de três quilômetros mata a dentro. O barco em que a dupla estava teria sido afundado.
Nesta sexta-feira (17), a PF informou que as investigações apontam que não houve mandante ou organização criminosa envolvida no crime.
A identificação dos corpos está pendente. "Remanescentes humanos" foram encontrados no local onde estavam sendo feitas escavações, conforme o ministro da Justiça, Anderson Torres, e serão encaminhados para perícia.
A motivação e as circunstâncias do crime também precisam ser esclarecidas.
Os restos mortais encontrados no suposto local do assassinato do jornalista e do indigenista foram transportados para Brasília na noite de quinta-feira (16). O voo desembarcou no hangar da Polícia Federal no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek por volta das 18h35min.
Agora, os restos mortais encontrados no Vale do Javari serão submetidos à perícia. Os exames já tiveram início e serão realizados no Instituto de Criminalística da PF. Os resultados devem sair até o final da próxima semana.
O presidente Jair Bolsonaro comentou na quarta-feira (15) sobre o desaparecimento de Pereira e Phillips. O chefe do Executivo chamou a viagem do repórter inglês de "excursão" e disse que ele era "malvisto" na Amazônia.
— Esse inglês era malvisto na região, fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental. Então, naquela região bastante isolada, muita gente não gostava dele. Deveria ter segurança mais do que redobrada consigo próprio — afirmou o presidente. — Os dois resolveram entrar numa área completamente inóspita sozinhos, sem segurança, e aconteceu problema (...) É muito temerário você andar naquela região sem estar preparado fisicamente e também sem armamento devidamente autorizado pela Funai, que, pelo que parece, não estavam — disse.
Nesta quinta-feira (16), o presidente se manifestou pela primeira vez, no Twitter, sobre a confirmação dos assassinatos do jornalista e do indigenista. "Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!", escreveu Bolsonaro. A postagem, no entanto, foi feita em resposta à nota de pesar emitida pela Funai sobre as mortes — não se trata, portanto, de uma publicação à parte na rede social.
Alessandra Sampaio, esposa do jornalista inglês Dom Phillips, divulgou nota na quinta-feira (16), afirmando que uma "jornada em busca por justiça" começa agora.
"Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível", destacou Alessandra na publicação. "Embora ainda estejamos aguardando as confirmações definitivas, este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno", acrescentou.
Os familiares britânicos de Dom Phillips também publicaram uma nota sobre o caso. Os parentes no Reino Unido disseram que estavam "de coração partido" com a notícia e agradeceram o esforço de todos nas buscas, principalmente dos povos indígenas.
A esposa do indigenista Bruno Pereira também se manifestou publicamente sobre o assassinato do marido e do jornalista. A antropóloga Beatriz Matos, que também realiza pesquisas e trabalhos com os indígenas amazônicos, disse que "agora que os espíritos do Bruno estão eando na floresta e espalhados na gente, nossa força é muito maior".
O assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira repercutiu em diversos países, principalmente na Inglaterra. Na quinta-feira (16), o jornal britânico The Guardian publicou um longo editorial sobre o caso, que incluiu críticas às autoridades brasileiras e elogios ao empenho dos povos indígenas.
Nesta sexta (17), o jornal estampou uma foto de Phillips na capa da edição. Os jornais ingleses The Times, The Sun, Daily Mirror, The Telegraph e Evening Standard, assim como a BBC, também publicaram matérias sobre o caso nos últimos dias.
Nos Estados Unidos, o caso ganhou reportagens de destaque em todos os principais jornais do país, incluindo o New York Times, o Boston Globe, o Washington Post e o Los Angeles Times.
Veículos como o El País, na Espanha, o Público, em Portugal, o Le Monde, na França, o Corriere dela Sera, na Itália, o Clarín, na Argentina, e agências internacionais de notícias como a Reuters e a Associated Press também publicaram reportagens sobre os assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira.