Com paciência de artesã, Daniela monta o quebra-cabeças de relacionamentos que iriam se entrecruzar no fatídico sábado na danceteria. Detalha a trajetória de quatro amigas que morreram juntas. Dos casais de namorados que jamais tornaram a se ver. Das telas piscantes de celular com apelos desesperados. Dos heróis que, após escapar do inferno chamado Kiss, retornaram para ajudar – e morreram na tentativa de resgate.
Mães e sobreviventes são o compreensível destaque nesse livro que sintetiza muito do que você já leu ou ouviu sobre o incêndio que marcou o país. A diferença está na alta voltagem emotiva dessa obra. No luto e na luta que duram cinco anos. E, também, num aspecto pouco descrito até hoje: o esforço das equipes de resgate e os efeitos da tragédia sobre elas.
Com maestria, a narrativa enfoca o desespero dos que, sem equipamento, tentaram retirar pessoas do edifício transformado em tocha. Daniela fala de gente que chora ao ver fotos de quem jamais conheceu. De médicos que desistiram de atuar na emergência. De psiquiatras que procuraram auxílio psíquico. De enfermeiros que aram dias se escovando, freneticamente, para tirar do corpo – e da alma – um odor de fuligem e morte que insiste em não sair. Todo Dia a Mesma Noite é uma obra para ler chorando.
Todo Dia a Mesma Noite
De Daniela Arbex.
Reportagem, editora Intrínseca, 248 páginas, R$ 39,90 (R$ 19,90 o e-book).