
— Que Copa é essa? Quando começa?
A pergunta do motorista de aplicativo que me levou do Aeroporto Internacional de Miami até o hotel resume como boa parte dos americanos e da imprensa local encara o novo Mundial de Clubes da Fifa, que terá início neste sábado (14), nos Estados Unidos: com total indiferença.
— Aqui nos EUA a gente acompanha mais o futebol americano, o basquete e o beisebol — explicou o condutor, Jeremy Rodriguez, 31 anos, natural de Chicago e de origem porto-riquenha.
— Em Porto Rico, o nosso esporte é o beisebol — completou.
Já a eletricista Erisett Sánchez, 24 anos, que sentou ao meu lado no voo no trecho final da viagem, entre a Cidade do Panamá e Miami, prevê que o novo Mundial de Clubes, disputado pela primeira vez com 32 equipes, deve ser um evento sobretudo para turistas e para os latino-americanos que vivem nos Estados Unidos.
— Eu mesma só fiquei sabendo deste Mundial há alguns dias, quando vi na imprensa que os jogadores estavam começando a chegar. Nos EUA, nós acompanhamos mais o futebol americano e o basquete. Quem gosta mesmo de futebol são os latino-americanos. Eles é que devem se empolgar com o Mundial. Especialmente aqueles que vêm de países onde o futebol é popular — afirmou.
Na área de desembarque do aeroporto, um pequeno guichê da Fifa destinado ao atendimento de convidados oficiais era a única menção visível ao torneio.
Em uma loja de conveniência do terminal, porém, me chamou a atenção uma camiseta do Inter Miami, de Lionel Messi, exposta à venda ao lado de uma do Miami Dolphins, time de futebol americano da cidade. Mas, mesmo com a imagem do astro argentino em destaque, o vendedor não estava muito por dentro do Mundial.
— Fiquei sabendo ontem que vai ter essa competição — confessou.
Nesta mesma loja, comprei um exemplar do jornal Miami Herald em busca de notícias sobre o evento. Nada. O único destaque relacionado a futebol era uma reportagem em tom bastante crítico sobre a seleção dos EUA, que, a um ano da Copa do Mundo, vem de derrotas seguidas em amistosos para Suíça e Turquia. Fora isso, o destaque principal do diário era o Florida Panthers, equipe local de hóquei no gelo.

Latinos e palmeirenses esquentam o clima
O ambiente começou a mudar, porém, com a chegada de torcedores sul-americanos. Entre eles, um animado grupo de palmeirenses.
— Vamos com tudo e, se Deus quiser, ganharemos este título do Mundial. É um campeonato muito difícil, mas o Palmeiras chegou aqui por mérito. Queremos ver o time competindo com o “espírito do Abel Ferreira” — disse o estudante de direito Fernando Garaldi, 22 anos, que viajava com a mãe Vera, 52, a irmã Mariene, 26, e o cunhado Bruno Chera, 32 anos.
Para Bruno, que é de empresas, o técnico Abel Ferreira e o zagueiro paraguaio Gustavo Gomez são as principais esperanças alviverdes.
— O Abel conhece o Porto (primeiro adversário na fase de grupos) e vai usar isso a nosso favor. E o Gustavo Gómez acabou de anular o Vini Jr. (na derrota por 1 a 0 do Paraguai para o Brasil). Irá anular também o Messi e o Suárez. Eles estão quebrados, velho. Pode esquecer — empolgou-se.

Goycochea
Em meio à movimentação, desembarcou o ex-goleiro da seleção argentina Sergio Goycochea, com agem pelo Inter em 1995. Embora identificado com o River Plate, o hoje comentarista da DirecTV foi bastante tietado por torcedores do Boca Juniors no aeroporto e se mostrou otimista com a participação dos clubes de Buenos Aires no torneio.
— Diferente do que acontece no dia a dia ou nas competições sul-americanas, aqui a responsabilidade é menor. River e Boca convivem sempre com a pressão do “ou é campeão ou é um fracasso”. No Mundial, eles vêm com o objetivo de competir. Isso pode ser positivo — avaliou.
No estádio, clima ainda distante de Mundial
Depois de deixar as malas no hotel, fui ao Hard Rock Stadium retirar a minha credencial. Mesmo no palco do jogo de abertura, não existia clima de Mundial. Poucos jornalistas circulavam e, no entorno, predominavam trabalhadores envolvidos em outros eventos que ocorrerm diariamente no local. Havia, por exemplo, trabalhadores ainda desmontando as estruturas do Grande Prêmio de Miami de Fórmula 1, que ocorreu no início de maio, no complexo do estádio
— Não estou sabendo nada nem deste jogo e nem desta competição — disse um dos funcionários, quando perguntado por mim sobre onde ficava o centro de imprensa da Fifa.
Devidamente credenciado, fui cumprir a segunda missão do dia: comprar um chip de internet. Na loja de uma operadora, finalmente encontrei um morador local animado com o Mundial.
— Estou empolgado. Gosto de futebol e torço para o Barcelona. Não acompanho muito a MLS, mas vejo bastante a Champions League. Agora, no Mundial, vou torcer para o Inter Miami. Afinal, é o time do Messi, né?! — contou o atendente, um cubano de 20 anos que vive há dez nos EUA e pediu para ser identificado apenas como Fliykzer.
Messi,; aliás, é a palavra mágica. O craque argentino é a grande aposta dos organizadores para, a partir de sábado (14), no jogo entre Inter Miami-EUA e Al-Ahly-EGI, contagiar as ruas norte-americanas com o clima do novo Mundial de Clubes. Mesmo que com a ajuda dos turistas e dos latinos.