Foi meu 16º. 

Pois então duvido que em 16 Gauchões já tinhas saído de campo vaiado depois de ganhar por 3 a 0 em casa.
Ah, cara. Foi um jogo totalmente diferente, ainda estou chateado, triste pela maneira que foi. Queríamos muito a classificação, brigar pelo título, tínhamos condições, entramos focados. Achávamos que o resultado mais difícil seria o São José. E deu. Até o empate servia ao Juventude. Entramos para fazer nosso papel. Entendemos o torcedor do Caxias, que queria o rebaixamento pela rivalidade... Foi um clima diferente, com quase 40 anos nunca tinha ado. Tenho carinho e respeito da torcida por tudo o que conquistei, mas desta vez foi diferente. Acho que uns 30% dos torcedores queriam que a gente perdesse. 

Vocês sabiam do resultado de Pelotas?
Não tem como não saber o resultado do Juventude. E eles já começam perdendo. A pressão cai sobre nós, como se nós estivéssemos errados em tentar ganhar. Era um gol deles e estaríamos classificados. Foi o jogo todo tenso. Fica essa frustração de não estar entre os quatro primeiros. Era uma decisão para nós e para o União-FW. Fizemos nosso papel, pena que o nosso rival não conseguiu nem um empate. De repente, no final, eles viram que fizemos três e podem não ter feito nem força. É difícil digerir. Queríamos muito ter ficado entre os quatro. É o 16º Gauchão, mais uma história. Queria o título, queria disputar entre os melhores goleiros. Mas ao menos conseguimos a vaga para a Série D do ano que vem.

Antes do jogo até se entende vocês não pensarem em perder, já que tinham chance de buscar a vaga. Mas depois do gol do Brasil-Pel, não ou pela cabeça perder o jogo e rebaixar o Juventude?
Fizemos o gol rápido. Eles também. Nem sei quem fez primeiro.

Estava acompanhando. O Brasil-Pel fez e logo depois vocês também.
Mas o que vamos fazer? A torcida até pedia, xingava. Entendo isso, mas somos profissionais. O clube queria chegar entre os quatro. Precisávamos deixar o clube com calendário cheio em 2023. Foi um clima totalmente diferente. Eu não tinha ainda ado por isso. O Ca-Ju é uma rivalidade muito grande. Imagina se isso acontece entre Grêmio e Inter.

Vocês são profissionais, mas e os dirigentes? Como foi a recepção no vestiário?
Os dirigentes nos cobraram que tínhamos de fazer nosso papel. Ninguém imaginou que o Juventude perderia. É um clube que tem uma condição superior às demais do Interior, está na Série A, é, querendo ou não, a terceira força. E não conseguiu fazer o papel. O rival livrou o Juventude de não ser rebaixado. É doido. Mas tínhamos os objetivos, queria ter ado porque poderíamos fazer um jogo parelho com o Ypiranga e ir para a final.

Todos sabemos que nesses tipos de jogos aparecem incentivos, inclusive financeiros, de times diretamente ligados. No caso de vocês, seria o inusitado de vir do Juventude. Teve isso?
Capaz, cara. Não teve nada, não. Nem o Juventude mandaria, tem a rivalidade. O Juventude nem a parte dele fez, não tem mérito. Foi ajudado por nós porque brigávamos por coisas grandes no campeonato e eles para não cair. E outra que nem aceitaríamos. Eu, certamente, nem aceitaria. Quero seguir jogando por mais dois ou três anos ainda e vamos dar sequência nisso na Série D e tentar chegar na Série C também.

Claro que às 16h30min, quando a bola rolou, não tinha como saber o que viria. Mas lá pelas 19h, quando tudo acabou e vocês ficaram em quinto, fora da próxima fase, e o Juventude em 10º mantido na Primeira Divisão, bateu algum arrependimento de não ter perdido?
Não vou ser hipócrita e mentir. Primeiro de tudo, gostaria de ter me classificado. Mas não vou mentir: não gostaria de ter ajudado o Juventude. Joguei lá em 2004, mas tenho uma identificação muito grande com o Caxias. Sou torcedor do Caxias. Então entendo a frustração da torcida por termos "ajudado" o Juventude e termos ficado fora. Te digo de coração limpo, sem prejudicar ninguém. Entramos no vestiário e corri para ver o final dos jogos. Estava dando o Inter na RBS TV e deu a bolinha na tela. Pulei para saber de quem era o gol, mas tinha sido do Aimoré. Infelizmente, eles não fizeram por onde. Nós ajudamos eles.

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