Com o DNA de uma empresa que atua há duas décadas no ramo, o projeto do Porto Meridional, desenvolvido pela DTA Engenharia Portuária e Ambiental, promete atrair ao Litoral Norte navios do tipo New Panamax, que operam no novo Canal de Panamá, e movimentar 40 milhões de toneladas de cargas ao ano.
A ideia começou a ganhar força em 2018, por iniciativa do ex-prefeito de o Fundo e ex-deputado federal Fernando Carrion. Acabou sendo encampada pelo MobiCaxias e pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), que auxilia na intermediação com o governo federal.
Será um porto diferenciado, com capacidade para receber a classe de navios do novo Canal do Panamá
JOÃO ACÁCIO DE OLIVEIRA NETO
Presidente da DTA Engenharia Portuária e Ambiental
Em 2019, após estudos batimétricos (medição da profundidade do oceano), concluiu-se que Arroio do Sal era o local mais indicado para a iniciativa (até então, o alvo era Torres). A partir daí, um grupo de empreendedores comprou uma área junto à praia de Rondinha Nova, e a proposta deslanchou.
A intenção, segundo João Acácio Gomes de Oliveira Neto, engenheiro civil e presidente da DTA, é construir no local um terminal de uso privado (TUP) do tipo onshore. Isso significa que o porto funcionará junto à costa. Terá calado inicial de 17 metros (mais profundo do que o de Rio Grande, que homologou 15 metros em 2020) e, com isso, poderá comportar grandes embarcações e cruzeiros marítimos.
— Será um porto diferenciado, com capacidade para receber a classe de navios do novo Canal do Panamá, que foi inaugurado no ano ado. Além disso, incluímos um terminal de ageiros, que é a cereja do bolo, de olho nas oportunidades para o turismo, em especial pela proximidade com a Serra — diz Neto.
O o ao porto se dará pela BR-101, com uma ponte sobre a Lagoa de Itapeva. A área principal ficará junto à Estrada do Mar, e a expectativa é de que se transforme em um complexo industrial. Dali, partirá uma travessia sobre a rodovia até o oceano, com esteiras para grãos, dutos e arela para contêineres. Na água, haverá quebra-mares avançando cerca de um quilômetro adentro, formando uma bacia protetora.
Esse formato, conforme Neto, torna o projeto viável, reduzindo custos e riscos. A ideia é usar basalto da própria região, de pedreiras utilizadas na construção da BR-101.
— O basalto é de boa qualidade e as jazidas permitem a obtenção de grandes blocos. A viabilidade do projeto está muito centrada nisso. Será um porto abrigado, com calado ideal, que poderá ser ampliado para 19 metros, com zero assoreamento e um canal de o curto, que exigirá pouca manutenção — projeta o engenheiro.
A expectativa é de que as licenças sejam liberadas em um ano. Até lá, será preciso garantir R$ 5 bilhões em investimentos privados. Parte do recurso é assegurada pelos donos do terreno — seis empresários de diferentes setores que criaram uma sociedade — e o restante será captado no mercado. Segundo o grupo, já há manifestação formal de interesse por parte de investidores, mas os detalhes são mantidos em sigilo.
O projeto foi apresentado ao secretário Nacional de Portos e Transportes Aquaviários, Diogo Piloni, no fim de junho, e também a investidores, em Porto Alegre, na última segunda-feira (9).
— Nosso porto é real, consistente e vai transformar o Estado — diz o empresário Moisés Mury, um dos donos da área, que, segundo ele, chega a 700 hectares.
Morador de Xangri-lá, Mury não esconde a contrariedade em relação ao outro projeto em discussão, que, na avaliação dele e do grupo, “não para em pé”. A expectativa dos empreendedores é iniciar as obras do Porto Meridional em meados de 2022, com duração de 20 meses.
Projetado em formato offshore (longe da costa), o Porto Litoral Norte envolve uma área de 150 hectares junto ao balneário Arroio Seco. A iniciativa é da Doha Investimentos e Participações, que chegou a estar presente nas primeiras reuniões do MobiCaxias sobre o tema, mas, em razão de divergências, acabou seguindo outro caminho.
Apoiada pelo deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS), a proposta da Doha, com sede em Porto Alegre e pouco mais de quatro anos de atuação no mercado, também prevê a instalação de um terminal de uso privado (TUP), porém com algumas diferenças.
Vamos poder receber navios Chinamax, os maiores do mundo, que chegam a levar 23,4 mil contêineres
ANDERSON CÉSAR LEOBINO
Sócio da Doha Investimentos e Participações
— Nosso ponto alto é o calado, que será de 30 metros. Vamos poder receber navios Chinamax, os maiores do mundo, que chegam a levar 23,4 mil contêineres. Não será um porto apenas para o Estado, mas para o Brasil e para a América Latina — afirma Anderson César Leobino, um dos sócios da empresa.
A proposta também prevê o via BR-101, complexo industrial integrado, terminal de ageiros e retroárea junto à Estrada do Mar, com viaduto. Segundo Leobino, a ponte de o até o píer será de 2,8 quilômetros, com um quebra-mar de 500 metros. O píer, no sentido transversal, terá 1,8 quilômetro. A estrutura terá a forma de “L”.
Sobre as críticas dos concorrentes, Leobino argumenta que sua proposta “olha 50 anos à frente”. Ele afirma que já conta com a garantia de investidores estrangeiros e aval da Marinha. Chegou a ser cogitada a participação de russos no negócio, mas Leobino não confirma e evita entrar em detalhes por questões de confidencialidade.
A intenção é obter as licenças ainda em 2021 e iniciar a construção em 2022, com previsão de conclusão em 2025. Ele ressalta que “há espaço para todos” e diz que sua proposta é menos conhecida porque evita exposição “antes de ter toda a parte burocrática resolvida”.
— Não tenho falado muito justamente porque quero primeiro garantir a documentação, mas o projeto tem viabilidade, recursos assegurados, e o terreno já é nosso — diz.