
Um episódio de Casos de Família seria menos tenso do que a relação do príncipe Harry com a família real desde que ele resolveu deixar os deveres reais em 2020. O drama no núcleo familiar aumentou após o duque de Sussex afirmar, em uma entrevista à BBC no último final de semana, que não tem mais contato com seu pai, o rei Charles III, que, desde 2024, sofre de um câncer cuja natureza não foi divulgada.
— Alguns membros da minha família nunca me perdoarão por escrever um livro, mas eu adoraria me reconciliar com eles — declarou Harry, referindo-se à sua autobiografia O Que Sobra, publicada em 2023.
Apesar de Harry desejar uma reconciliação com a família, eles não parecem dispostos a fazer as pazes. Na entrevista à BBC, o duque de Sussex apontou como origem desse distanciamento uma decisão judicial do governo britânico que lhe impede de voltar ao Reino Unido com sua esposa Meghan Markle e seus filhos – Archie Harrison Mountbatten-Windsor, de cinco anos, e Lilibet Diana Mountbatten-Windsor, de três.
Desde que se mudaram para os Estados Unidos, há cinco anos, Harry e sua família perderam a proteção policial de rotina oferecida a membros ativos da realeza, financiada pelos contribuintes britânicos. Por isso, entrou com recurso contra essa decisão que, na sexta-feira (2), foi rejeitado pelo Tribunal de Apelação de Londres.
Conforme a AFP, na sentença, o juiz Geoffrey Vos disse que a decisão do governo britânico de reduzir as medidas de segurança era "compreensível", já que “o duque de Sussex deixou suas funções reais e o Reino Unido para viver principalmente no Exterior”.
O magistrado indicou que compreende os “argumentos importantes e comoventes” do príncipe, mas considerou que não constituem “um argumento jurídico para impugnar” a decisão do governo.
Harry apresentou uma ação legal em 2021 para impugnar a decisão. Depois de ter o pedido foi negado em primeira instância em 2024, apresentou este recurso, e também não obteve sucesso.
O duque de Sussex argumentou em seu recurso que a falta de garantias sobre sua segurança constitui um obstáculo a suas visitas ao Reino Unido. Os advogados mencionaram que a Al-Qaeda teria feito ameaças contra Harry, embora isso não tenha sido confirmado pelas autoridades britânicas.
— Não sei quanto tempo resta ao meu pai (…), mas seria bom se nos reconciliássemos. Não serve de nada continuar brigando. A vida é preciosa — acrescentou Harry à BBC.
Quando o rompimento começou
A relação de Harry com a família real começou a ficar tensa por volta de 2019, quando o casal começou a compartilhar com a imprensa o “lado negativo da realeza”.
Um exemplo disso foi a entrevista à emissora ITV, em que Harry relatou que Diana ficaria "triste" ao ver como a relação entre seus dois filhos está tensa. E considera que ela saberia que "há certas coisas que devem ser resolvidas para curar a relação".
Saída da monarquia
Em janeiro de 2020, Harry e Meghan anunciaram o desejo de deixar suas funções como membros da realeza, alegando o desejo de viver uma vida mais independente e pagar as próprias contas, além de trabalharem em causas humanitárias.
Inicialmente, o casal se mudou para o Canadá. Poucos meses depois, estabeleceram residência em Montecito, na Califórnia, cidade próxima a Los Angeles.
Em fevereiro de 2021, o Palácio de Buckingham confirmou oficialmente que eles não retornariam às funções reais, declarando que “o casal não continuará com as responsabilidades e deveres inerentes a uma vida de serviço público”. Ainda assim, acrescentou que Harry e Meghan continuavam sendo “membros muito queridos da família”. Com a saída, eles abriram mão de nomeações militares honorárias e patrocínios reais.
Revelações na série
Além das entrevistas, o casal voltou a fazer revelações sobre a realeza na série documental Harry & Meghan, na Netflix. Na produção, eles compartilharam os bastidores da vida após a cerimônia de casamento deles, focando no tratamento da família real em relação à duquesa de Sussex e na perseguição da mídia em relação a eles.
Harry voltou a acusar a realeza de não ter tentado proteger a esposa dele e acrescentou que desconfia de que as equipes de seu pai, rei Charles III, e de seu irmão, o príncipe de Gales William, tenham vazado informações, contribuindo para o circo que foi formado em volta de Harry e Meghan.
Entrevista a Oprah
Já afastados da família real, Harry e Meghan decidiram compartilhar em uma entrevista à Oprah Winfrey mais detalhes sobre os motivos que levaram à saída deles da realeza e fazer a vida fora da Inglaterra – racismo, pensamentos suicidas, desentendimentos com príncipe William e Kate Middleton, perda da liberdade, entre outros assuntos.
Oprah fez questão de pontuar que o casal não estava "ganhando dinheiro" para falar e também não havia indicado "assuntos proibidos".
Morte da rainha
Com a morte da rainha Elizabeth II, em setembro de 2022, houve especulações sobre uma possível reaproximação entre Harry e os demais membros da família real.
Os irmãos chegaram a fazer uma rara aparição pública com suas esposas nos arredores do Castelo de Windsor, em homenagem à monarca. No entanto, o gesto simbólico não levou a uma reconciliação duradoura.
Autobiografia polêmica
A publicação da autobiografia O Que Sobra aprofundou o afastamento entre Harry e a família. No livro, Harry deu ainda mais detalhes sobre a intimidade do núcleo familiar, trazendo à tona conflitos, segredos e desabafos.
As brigas com o pai e o irmão são pontos altos na autobiografia do príncipe, que não tinha perspectivas de assumir o trono britânico. Em um tom, por vezes, de ressentimento, Harry conta que já na infância era tratado em casa e pelos tabloides como alguém "menos relevante", e seu irmão William, 40, como "o herdeiro".
"Minha família havia me declarado uma nulidade. 'O Reserva' (... eu) era dispensável. Eu sabia disso", diz em um trecho.
Sem contato com o pai
Segundo a revista People, desde a coroação em 2023, o rei Charles III tem evitado contato direto com Harry, incluindo não atender suas ligações.
Apesar de ter atacado a família real diversas vezes ao longo dos últimos anos, Harry estaria disposto a "baixar suas armas" caso a proteção policial para ele e sua família fosse retomada no Reino Unido. Mas, o pedido segue rejeitado pelo Judiciário britânico