
Depois de cada guerra / alguém tem que fazer a faxina. / Colocar uma certa ordem / que afinal não se faz sozinha. / Alguém tem que jogar o entulho / para o lado da estrada / para que possam ar / os carros carregando os corpos.
Ainda estava respondendo aos e-mails de leitores sobre a coluna da semana ada, que tratava de materiais recicláveis e era ilustrada com a foto da catadora que ou a faixa na posse presidencial, quando as imagens do quebra-quebra em Brasília interromperam o domingo.
Eram e-mails de cidadãos inconformados com a tal foto e, antes disso, com a própria posse. O adjetivo inconformados, aqui, usado como eufemismo para mal-educados e desbocados. Alguns até ameaçadores, o que chega a ser engraçado. Ameaçar alguém por uma coluna de jornal?
As cenas na televisão acabaram com a graça. O amor perdeu, os mais apressados poderiam pensar.
Alguém tem que se atolar / no lodo e nas cinzas / em molas de sofás / em cacos de vidro / e em trapos ensanguentados. / Alguém tem que arrastar a viga / para apoiar a parede, / pôr a porta nos caixilhos, / envidraçar a janela.
Fiquei pensando com qual sentimento meus leitores furiosos com o resultado das eleições assistiam àquelas cenas. Com a avidez de torcedores de MMA, talvez? Quebra mais, esfaqueia o Di Cavalcanti, destrói o gabinete do Xandão, bota fogo na bagaça toda? Com assombro, com censura, com repulsa? Melhor que o tiro saiu pela culatra.
Todos os setores da sociedade manifestaram apoio aos poderes atingidos. Todos os governadores largaram suas agendas e foram para Brasília. Eleitores ferrenhos do ex-presidente se mostraram horrorizados com a barbárie. E quem não se mostraria">Com creme de leite